Europa assume protagonismo na Cúpula do Clima enquanto grandes poluidores se ausentam de Belém

06 de novembro de 2025 4 minutos
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A Cúpula do Clima iniciou nesta quinta-feira (6) em Belém, reunindo cerca de 50 líderes mundiais em evento preparatório para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá de 10 a 21 de novembro na capital do Pará. O presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Friedrich Merz, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen responderam ao chamado do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, consolidando a presença europeia como pilar central das negociações. O Reino Unido também marcou presença simbólica com o príncipe William, que participa da Cúpula com foco em iniciativas de conservação ambiental ligadas ao prêmio Earthshot.

A configuração do encontro revela uma geometria geopolítica inédita. Os chefes dos três maiores poluidores mundiais – China, Estados Unidos e Índia – estarão notavelmente ausentes. Das cinco maiores economias emissoras de gases de efeito estufa, apenas a União Europeia enviará representação no mais alto nível de liderança, segundo informações da agência Reuters.

A ausência americana é particularmente marcante. O governo do presidente Donald Trump, que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris no mesmo dia de sua posse, optou por não enviar nenhum representante sênior ao evento. A China enviará seu vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang, enquanto a Índia será representada por autoridades ministeriais.

Com 57 dirigentes confirmados até sexta-feira passada, o encontro registrará a mais baixa participação de líderes mundiais desde 2019, quando cerca de 50 chefes de Estado compareceram à COP25 em Madri. O contraste é evidente: em 2015, na COP21 em Paris, 142 líderes discursaram durante a assinatura do histórico acordo climático.

A presidência brasileira implementou este ano uma mudança protocolar significativa que reflete tanto o clima amazônico quanto a busca por um ambiente menos formal de negociações. O governo brasileiro eximiu os participantes do requisito de vestimenta formal, como terno e gravata, para a COP30 devido ao calor e à umidade que imperam em Belém, recomendando código de vestimenta “smart casual” para garantir o conforto de delegados, negociadores, observadores e jornalistas.

O protagonismo europeu na cúpula ocorre em momento delicado para o bloco. Ministros do Clima da União Europeia se reuniram na terça-feira para tentar definir uma posição comum em torno da meta de reduzir emissões em 90% até 2040, mas até agora o bloco não apresentou à ONU uma nova meta de redução de emissões, conhecida como Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).

Na quinta-feira, Lula realizou reuniões bilaterais com Starmer e Macron, após encontros na quarta-feira com o vice-primeiro-ministro chinês e líderes da Finlândia e da União Europeia. As conversas bilaterais servem para alinhar prioridades antes da abertura formal da cúpula, que incluirá sessões temáticas sobre florestas e oceanos, transição energética e os dez anos do Acordo de Paris.

A decisão de organizar o encontro de líderes quatro dias antes do início oficial da conferência representou uma quebra de tradição, justificada pelos organizadores desde março como forma de proporcionar “tempo para uma reflexão mais aprofundada, sem a pressão dos hotéis ou da cidade”.

Pedro Abramovay, vice-presidente de programas da Open Society Foundations, sugeriu que a ausência americana pode paradoxalmente beneficiar as negociações. “Sem a presença dos EUA, podemos ver uma verdadeira conversa multilateral acontecendo”, afirmou à Reuters, observando que Lula tem se engajado ativamente com líderes da China, África, Sudeste Asiático e Europa sobre o tema climático.

A Europa, portanto, encontra-se em posição inusitada: com voz ampliada pela ausência de competidores tradicionais, mas também sob maior escrutínio sobre sua capacidade de traduzir retórica ambiciosa em compromissos financeiros concretos. O bloco enfrenta pressões domésticas crescentes sobre custos da transição energética e resistência política a políticas verdes em vários Estados-membros.

A grande aposta da presidência brasileira é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que busca captar US$ 125 bilhões em recursos públicos e privados para preservação de florestas tropicais. Porém, o Reino Unido, que ajudou a criar o fundo, já sinalizou que não fornecerá recursos, expressando desapontamento com a estrutura proposta.

 

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