Europa aposta alto para liderar a corrida tecnológica global

23 de junho de 2025 3 minutos
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Em resposta à crescente pressão geopolítica e tecnológica, a União Europeia prepara uma virada ambiciosa no seu modelo de financiamento à inovação. O Banco Europeu de Investimento (BEI) anunciou um pacote de 70 bilhões de euros para o setor tecnológico europeu entre 2025 e 2027, sinalizando uma guinada estratégica que busca reduzir a dependência externa em áreas consideradas críticas – da inteligência artificial à infraestrutura digital, passando por saúde, defesa e energias limpas.

Trata-se de uma iniciativa sem precedentes em escala e ambição. Batizado de TechEU, o programa pretende alavancar até 250 bilhões de euros em investimentos totais ao combinar empréstimos, garantias públicas e participação acionária com capital privado.

A decisão ocorre num momento em que a Europa se vê espremida entre os avanços tecnológicos dos Estados Unidos e o ímpeto da China. Após décadas apostando em regulação e mercado interno como motores da competitividade, Bruxelas agora sinaliza que só o mercado não basta.

“O capital de risco europeu continua escasso frente às necessidades do setor tecnológico. Precisamos agir com escala, velocidade e foco estratégico”, declarou em Bruxelas o vice-presidente do BEI, Thomas Östros.

Do total anunciado, 40 bilhões de euros virão via empréstimos tradicionais; 20 bilhões por meio de participações diretas ou instrumentos de quase-capital; e os 10 bilhões restantes serão usados para garantir operações de maior risco.

A lógica é simples: o Estado europeu atua como catalisador, reduzindo o risco para atrair investidores privados a setores onde o retorno é incerto no curto prazo, mas estratégico no médio e longo prazos.

Entre os setores prioritários listados estão:

  • IA generativa e robótica avançada
  • Infraestruturas digitais e data centers
  • Saúde e biotecnologia
  • Tecnologias verdes, como eólica offshore e hidrogênio
  • Matérias-primas críticas e semicondutores
  • Defesa e segurança cibernética (com uso civil e militar)

Segundo o BEI, o foco estará em projetos de escala europeia, com impacto sistêmico e potencial de criar “campeões continentais” em setores dominados hoje por grupos americanos ou asiáticos.

Um plano com timing político e econômico

O anúncio do TechEU não está desconectado do contexto político. A guerra na Ucrânia, a tensão comercial com a China e as eleições parlamentares europeias de 2024 reacenderam o debate sobre autonomia estratégica. A pandemia de Covid-19 e a crise dos semicondutores já haviam exposto a fragilidade de cadeias globais de valor — e a vulnerabilidade europeia frente a elas.

Além disso, o BEI teve seu teto de financiamento ampliado para 100 bilhões de euros em 2025, o maior da história. Paralelamente, cerca de 3,5 bilhões de euros foram reservados a projetos de defesa – um novo campo de atuação para o banco, que até poucos anos atrás evitava o setor.

Apesar do entusiasmo, analistas alertam que a execução será o verdadeiro teste. A fragmentação regulatória entre países, o ritmo lento de aprovação de projetos e a ausência de hubs financeiros comparáveis ao Vale do Silício ou Shenzhen podem comprometer os objetivos.

 

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