Europa acelera planos do euro digital em busca de autonomia financeira

26 de agosto de 2025 3 minutos
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Nos corredores do poder europeu, cresce a sensação de urgência. O euro digital, há tempos considerado para modernizar o sistema de pagamentos, passa agora de projeto técnico a prioridade estratégica. O avanço das stablecoins atreladas ao dólar e mudanças regulatórias nos Estados Unidos e na Ásia forçam a Europa a agir mais rápido.

Até recentemente, o Banco Central Europeu mantinha uma postura cautelosa em relação ao euro digital. A fase de investigação foi concluída em 2023 e a preparação avançou em 2024 com testes de infraestrutura e a elaboração de um guia regulatório.

O cenário internacional, no entanto, mudou. A aprovação do Genius Act nos Estados Unidos, legislação que regula o mercado de stablecoins em dólar, transformou o ambiente competitivo. O temor em Bruxelas é que o uso do dólar digitalizado se espalhe pela Europa, reduzindo a relevância do euro e comprometendo a soberania monetária do bloco.

Nesse contexto, autoridades do Eurosistema passaram a reavaliar os modelos técnicos. A ideia de usar apenas redes privadas perdeu força diante de uma alternativa ousada: lançar o euro digital em blockchains públicas como Ethereum e Solana. O objetivo é ampliar escala e interoperabilidade, embora preocupações com privacidade e estabilidade tecnológica permaneçam.

O dilema da privacidade e da descentralização

Adotar uma blockchain pública traria vantagens em alcance e transparência, além de facilitar a integração com o mercado global de criptoativos. Mas também levanta uma questão sensível: como proteger a privacidade dos cidadãos e evitar vigilância excessiva?

Alguns legisladores defendem um modelo híbrido, que combine abertura tecnológica com mecanismos de proteção de dados. O desafio, porém, é equilibrar inovação e segurança em um ambiente que exige respostas rápidas.

Ecos globais e a reação da China

Na Ásia, a China também se move. O país, que desde 2019 opera o yuan digital em formato centralizado, agora avalia permitir stablecoins atreladas à sua moeda. Relatos recentes apontam que Pequim pode autorizar emissões a partir de centros offshore como Hong Kong, em um esforço para internacionalizar o yuan e reduzir a dependência do dólar no comércio global.

Essa guinada marca uma mudança relevante na política chinesa, que até pouco tempo mantinha forte repressão ao mercado de criptomoedas. Ao mesmo tempo, fintechs locais têm visto valorização expressiva, refletindo expectativas de crescimento do novo setor.

A corrida pelo controle das moedas digitais insere-se em uma tendência maior de fragmentação e multipolaridade financeira. Europa e China aceleram suas iniciativas enquanto os Estados Unidos consolidam uma posição dominante com stablecoins já amplamente usadas em pagamentos e serviços.

No caso europeu, a presidente do BCE, Christine Lagarde, classificou o processo como um verdadeiro “momento euro” e defendeu a criação de um arcabouço legal robusto para viabilizar a moeda digital. O vice-presidente Luis de Guindos reforçou que o projeto é essencial para a soberania financeira do bloco, ainda que dependa de ajustes técnicos e do apoio político entre os Estados-membros.

A China, por sua vez, enfrenta dilemas próprios. Permitir stablecoins de yuan pode ampliar sua influência no comércio global, mas desafia o rígido controle de capitais mantido pelo Estado. O equilíbrio entre inovação e estabilidade será determinante para o sucesso da estratégia.

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