EUA e UE avançam em acordo comercial, mas tarifa de carros ainda é peça central

22 de agosto de 2025 3 minutos
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Estados Unidos e União Europeia anunciaram nesta semana um entendimento que promete reduzir a tensão no comércio transatlântico, mas ainda deixa pontos importantes em aberto. O pacto estabelece uma tarifa uniforme de 15% para grande parte das exportações europeias aos EUA – de automóveis a semicondutores e produtos farmacêuticos – e abre espaço para contrapartidas do lado europeu, como a remoção gradual de tarifas sobre produtos industriais norte-americanos.

O setor automotivo é o mais sensível nessa equação. Hoje, carros e autopeças da Europa entram nos EUA com tarifas de 27,5%, um peso considerável para montadoras alemãs e italianas. Washington sinalizou que pode aliviar esse fardo “em questão de semanas”, mas a condição é clara: Bruxelas precisa aprovar legislação que formalize os cortes tarifários prometidos aos produtos americanos. A redução teria efeito retroativo, mas ainda não há prazo definido para que o processo avance no Parlamento Europeu.

Energia e tecnologia no centro da agenda

O acordo vai além dos automóveis. A UE reafirmou a intenção de comprar cerca de US$ 750 bilhões em energia dos EUA – gás natural liquefeito, petróleo e nuclear – além de investir outros US$ 40 bilhões em chips de inteligência artificial e US$ 600 bilhões em setores estratégicos até 2028. Para Washington, trata-se de reforçar a posição de fornecedor energético num momento em que a Europa busca reduzir a dependência de combustíveis russos e chineses.

Esse ponto ajuda a explicar por que o pacto tem valor geopolítico. Mais do que tarifas, o que está em jogo é a construção de cadeias de suprimento seguras entre aliados, num cenário global marcado pela guerra na Ucrânia e pela crescente rivalidade com Pequim.

Um acordo mais político que jurídico

Ainda assim, a essência do pacto é mais política do que legal. A declaração conjunta tem força de compromisso, mas depende de regulamentações nacionais para se traduzir em benefícios concretos. Setores inteiros ficaram de fora, como vinhos e destilados, o que indica que as negociações devem se arrastar por mais tempo.

Para os EUA, o acordo mantém tarifas como instrumento de pressão e garante contrapartidas econômicas. Para a UE, oferece algum fôlego à sua indústria mais estratégica, a automotiva, e abre portas em áreas de energia e tecnologia. No plano global, o pacto mostra que a cooperação entre os dois lados do Atlântico ainda é possível, mas em moldes pragmáticos, condicionados e, sobretudo, incertos.

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