Como o uso de bicicletas na Dinamarca pode nos inspirar

Em visita ao Brasil, Jakob Villien, da consultoria Atkins, conta por que as bicicletas são hoje uma opção real de transporte para muitos dinamarqueses

22 de outubro de 2019 4 minutos
Europeanway

A Dinamarca tem um dos maiores índices de uso de bicicletas do mundo, e sua capital, Copenhague, está entre as cidades mais “amigas das bicicletas”. Os dinamarqueses transformaram de fato a bicicleta em uma alternativa de transporte e têm inspirado políticas de mobilidade ao redor do planeta.

O caso dinamarquês poderia ser adaptado à realidade de grandes cidades brasileiras? Sim, há diferenças geográficas, econômicas e culturais, mas o ponto central vale tanto para a Dinamarca quanto para o Brasil: investimento em infraestrutura.

“O trabalho é constante. Nossas ciclovias não são necessariamente perfeitas e não estão em todos os lugares. Nós não fizemos isso da noite para o dia”, diz Jakob Villien, da Atkins Dinamarca, consultoria especializada em mobilidade, design, engenharia e gestão de projetos.

O consultor esteve recentemente em São Paulo para participar da Semana da Mobilidade 2019, série de workshops, palestras e atividades de conscientização organizada pela Embaixada da Dinamarca no Brasil, pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) e pela Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito. Em sua breve passagem pela cidade, Villien falou com exclusividade ao Scandinavian Way. Assista a seguir à entrevista. Logo depois do vídeo, leia alguns dos tópicos tratados pelo especialista.

 

USAR BICICLETAS NÃO TEM A VER (APENAS) COM SUSTENTABILIDADE
“A questão ambiental talvez nem seja um motivo para as pessoas usarem bicicletas. (Para que as pessoas não usem o carro), é preciso oferecer uma alternativa de transporte mais atraente. Em Copenhague não é diferente. Nós pesquisamos, e a imensa maioria das pessoas na cidade diz que escolhe a bicicleta porque essa é a opção mais rápida e acessível na comparação com outros meios de transporte. Não é porque elas queiram fazer algo em relação ao meio ambiente. Sim, essa é uma questão muito importante, mas não é o ponto básico para escolher um meio de transporte.”

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CARROS E BICICLETAS NÃO SÃO INIMIGOS
“Às vezes, quando recebemos visitantes, eles frequentemente ficam surpresos por haver tantos carros em Copenhague. Uma grande parcela de nossas estradas ainda é dedicada aos automóveis, e apenas uma pequena – mas importante – fração é para as bicicletas. Eu não acho que vamos excluir os carros por causa de nosso amor pelas bicicletas em Copenhague. Você definitivamente pode ter ambos, mas também é importante saber que se trata de uma questão de espaço nas cidades e nas estradas.”

INFRAESTRUTURA, A PALAVRA-CHAVE
“Eu creio que nossa primeira ciclovia foi construída em 1912, ou algo assim. Foi muito cedo. É que tínhamos espaços que serviam para cavalgar e outros para bondes que foram convertidos para ciclovias. Ainda assim, a prefeitura de Copenhague continuou a expansão, com vias rápidas para as bicicletas e rotas verdes, que continuam sendo construídas no município. Para a pessoa usar a bicicleta para ir ao trabalho, ou na hora de lazer, ou seja lá o que ela estiver fazendo, você precisa oferecer uma rede segura e boa de ciclovias. Infraestrutura é, definitvamente, central.”

O AVANÇO DAS CICLOVIAS EM SÃO PAULO
“Depois de ver a sua já extensa rede de ciclovias, dá para dizer que as bases para o desenvolvimento já existem. A extensão das ciclovias de São Paulo e Copenhague não é comparável, a escala é muito diferente, já que Copenhague é uma cidade muito menor. O progresso que já houve em São Paulo é algo de que se pode ter orgulho. Eu vejo que um importante primeiro passo foi dado para que se venha a ter uma grande rede de boas ciclovias.”

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