A Dinamarca tem um dos maiores índices de uso de bicicletas do mundo, e sua capital, Copenhague, está entre as cidades mais “amigas das bicicletas”. Os dinamarqueses transformaram de fato a bicicleta em uma alternativa de transporte e têm inspirado políticas de mobilidade ao redor do planeta.
O caso dinamarquês poderia ser adaptado à realidade de grandes cidades brasileiras? Sim, há diferenças geográficas, econômicas e culturais, mas o ponto central vale tanto para a Dinamarca quanto para o Brasil: investimento em infraestrutura.
“O trabalho é constante. Nossas ciclovias não são necessariamente perfeitas e não estão em todos os lugares. Nós não fizemos isso da noite para o dia”, diz Jakob Villien, da Atkins Dinamarca, consultoria especializada em mobilidade, design, engenharia e gestão de projetos.
O consultor esteve recentemente em São Paulo para participar da Semana da Mobilidade 2019, série de workshops, palestras e atividades de conscientização organizada pela Embaixada da Dinamarca no Brasil, pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) e pela Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito. Em sua breve passagem pela cidade, Villien falou com exclusividade ao Scandinavian Way. Assista a seguir à entrevista. Logo depois do vídeo, leia alguns dos tópicos tratados pelo especialista.
USAR BICICLETAS NÃO TEM A VER (APENAS) COM SUSTENTABILIDADE
“A questão ambiental talvez nem seja um motivo para as pessoas usarem bicicletas. (Para que as pessoas não usem o carro), é preciso oferecer uma alternativa de transporte mais atraente. Em Copenhague não é diferente. Nós pesquisamos, e a imensa maioria das pessoas na cidade diz que escolhe a bicicleta porque essa é a opção mais rápida e acessível na comparação com outros meios de transporte. Não é porque elas queiram fazer algo em relação ao meio ambiente. Sim, essa é uma questão muito importante, mas não é o ponto básico para escolher um meio de transporte.”
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CARROS E BICICLETAS NÃO SÃO INIMIGOS
“Às vezes, quando recebemos visitantes, eles frequentemente ficam surpresos por haver tantos carros em Copenhague. Uma grande parcela de nossas estradas ainda é dedicada aos automóveis, e apenas uma pequena – mas importante – fração é para as bicicletas. Eu não acho que vamos excluir os carros por causa de nosso amor pelas bicicletas em Copenhague. Você definitivamente pode ter ambos, mas também é importante saber que se trata de uma questão de espaço nas cidades e nas estradas.”
INFRAESTRUTURA, A PALAVRA-CHAVE
“Eu creio que nossa primeira ciclovia foi construída em 1912, ou algo assim. Foi muito cedo. É que tínhamos espaços que serviam para cavalgar e outros para bondes que foram convertidos para ciclovias. Ainda assim, a prefeitura de Copenhague continuou a expansão, com vias rápidas para as bicicletas e rotas verdes, que continuam sendo construídas no município. Para a pessoa usar a bicicleta para ir ao trabalho, ou na hora de lazer, ou seja lá o que ela estiver fazendo, você precisa oferecer uma rede segura e boa de ciclovias. Infraestrutura é, definitvamente, central.”
O AVANÇO DAS CICLOVIAS EM SÃO PAULO
“Depois de ver a sua já extensa rede de ciclovias, dá para dizer que as bases para o desenvolvimento já existem. A extensão das ciclovias de São Paulo e Copenhague não é comparável, a escala é muito diferente, já que Copenhague é uma cidade muito menor. O progresso que já houve em São Paulo é algo de que se pode ter orgulho. Eu vejo que um importante primeiro passo foi dado para que se venha a ter uma grande rede de boas ciclovias.”