Entenda por que o caça sueco Gripen é importante para o Brasil

Com a transferência de tecnologia na parceria com a Saab, o país poderá disputar uma parte de um mercado global estimado em US$ 370 bilhões

11 de setembro de 2019 5 minutos
Europeanway

A empresa sueca Saab entregou nesta terça-feira (10/9) à Força Aérea Brasileira (FAB) o primeiro dos 36 caças Gripen comprados pelo governo brasileiro por US$ 4,05 bilhões em 2014 para reequipar a frota da Aeronáutica. Participaram da cerimônia de entrega, realizada na cidade de Linköping, na Suécia, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez, entre outras autoridades brasileiras e suecas.

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Para além do evidente reforço da defesa do Brasil e do aumento da capacidade operacional da FAB, o projeto terá impactos diretos em frentes como desenvolvimento tecnológico, geração de empregos e comércio exterior. A seguir, em cinco tópicos, o Scandinavian Way explica por que o caça sueco é importante para o Brasil:

1. Aumento da capacidade operacional da FAB

Os novos caças Gripen vão substituir os antigos F-5, comprados no fim da década de 80, e AMX. A aeronave consegue decolar com apenas 500 metros de pista, pode cobrir pouco mais de 3 mil quilômetros, atinge velocidade máxima de 2.450 km/h – a chamada Mach 2, equivalente a duas vezes a velocidade do som – e consegue levar 5,3 toneladas de armamentos, o dobro do B-17, a “fortaleza voadora” usada na Segunda Guerra Mundial. Com carga máxima de ataque, seu raio de ação é de 800 a 1.000 km.

2. Participação de empresas brasileiras

O painel que vai equipar os caças é produzido pela AEL Sistemas, do Rio Grande do Sul. A propósito, o equipamento vai integrar não apenas os 36 caças que o Brasil comprou, mas também os 60 encomendados pelo governo sueco. E esse é apenas um entre os vários exemplos concretos de participação de empresas nacionais. Além da Embraer, Atech, Atmos, Inbra e Mectron estão entre as envolvidas diretamente no projeto – a relação completa tem mais 30 de companhias.

Nessa lista está ainda a empresa de engenharia Akaer, na qual a Saab tem hoje uma fatia de 25%. A fabricante sueca, em parceria com a Akaer, investiu US$ 150 milhões em uma fábrica em São Bernardo do Campo (SP). Do local sairão seis segmentos que integrarão a estruitura do Gripen brasileiro: cone de cauda, freios aerodinâmicos, caixão das asas, fuselagem traseira e a fuselagem dianteira para as versões monoposto (um assento) e biposto (dois assentos).

3. Transferência de tecnologia

Segundo registro da Agência Brasil, a Saab informa que mais de 350 brasileiros, entre engenheiros e técnicos, participam ativamente do programa de transferência de tecnologia. Essa parte da cooperação inclui temporadas na Suécia para treinamento desses profissionais.

Há 150 engenheiros trabalhando no projeto do caça biposto – dos 36 da encomenda total, oito serão de dois assentos. A maior parte desse contingente está no Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen no núcleo industrial da Embraer Defesa e Segurança (EDS) em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo, a 316km da capital. Com previsão de aumento, esse efetivo pode chegar a 400 especialistas.

Para além disso, a maior parte dos Gripen será construída no Brasil – a Embraer planeja entregar o primeiro em 2024. Ao todo, 40% do caça terá tecnologia brasileira, e 80% da estrutura primária também será feita no país. O contrato prevê amplo acesso a informações técnicas, capazes de dar a agências do governo, como o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, e a complexos industriais, como o da EDS, a capacidade de conceber uma aeronave de combate de alto desempenho possivelmente em dez anos.

4. Geração de empregos

Segundo um estudo elaborado pela consultoria inglesa PwC, as atividades ligadas ao programa do Gripen E/F poderão gerar 2,2 mil empregos diretos no setor aeroespacial. Uma projeção de 2017 pela Comissão Coordenadora Aeronave de Combate (Copac), por sua vez, fala em “mais 14.650 postos de trabalho, incluindo outros setores da economia”.

5. Brasil no mercado mundial de defesa

Com o programa, o Brasil passa a ter a possibilidade de disputar uma fatia de um setor gigantesco: a indústria de defesa. O Centro de Estudos da Defesa, de Londres, prevê que a demanda global por novas aeronaves de combate chegará a até US$ 370 bilhões. Nos próximos 30 anos, estima-se um mercado de 4 mil a 5 mil caças, número que exclui a demanda dos Estados Unidos.

A partir da próxima década, o segmento de caças de combate será dominado por EUA, Rússia, China, Suécia e Índia, mas com espaço para a entrada de fornecedores alternativos, como Coreia do Sul, Japão e Turquia. É nesse contexto que a parceria com os suecos abre caminho para novos negócios para a Embraer Defesa e Segurança.

Até a década de 2050, os F-39 – como os caças Gripen da FAB passarão a ser chamados quando entrarem em operação – vão passar por pelo menos dois ciclos de modernização. O primeiro lote, de 36 unidades, terá sido substituído por encomendas já totalmente atendidas pela fábrica da Embraer Defesa e Segurança em Gavião Peixoto. O número final pode chegar a um número entre 108 e 150 aeronaves.

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