“Elon Musk não entende a Suécia”

22 de janeiro de 2024 4 minutos
Europeanway

Desde sua chegada à Suécia em 2013, a Tesla, liderada pelo visionário empresário Elon Musk, conquistou seu espaço no mercado automotivo do país escandinavo, conhecido por sua forte consciência ambiental. A marca norte-americana, especializada em carros elétricos, encontrou uma demanda crescente em uma nação onde a sustentabilidade e a preocupação com o meio ambiente são valores fundamentais.

A presença da Tesla no país nórdico é marcada não apenas pelos carros inovadores que produz nos Estados Unidos, mas também pela geração de empregos e pelo impacto econômico positivo.

No entanto, o cenário promissor está prestes a ser desafiado. Segundo recente matéria publicada pela The Economist, a Tesla não fabrica veículos na Suécia, mas emprega cerca de 300 pessoas para atender aos carros. Embora o país não seja um bastião da militância de esquerda, seus sindicatos são poderosos; os empregadores geralmente definem salários e condições diretamente com os funcionários. Uma vez estabelecido, um acordo coletivo se aplica a todos na seção da força de trabalho representada pelo sindicato, mesmo que não sejam membros. Esses acordos cobrem cerca de 90% dos trabalhadores suecos.

À medida que as operações suecas da Tesla cresceram, aumentou a pressão para que a empresa adotasse os métodos locais de negociação trabalhista. A Tesla recusou várias tentativas do sindicato IF Metall de iniciar negociações para um acordo coletivo (a empresa afirma oferecer salários justos e boas condições de trabalho). Até que em 27 de outubro do ano passado, o sindicato teve apoio suficiente para forçar a questão promovendo uma greve.

Na ocasião, o CEO classificou o movimento de ser uma “insanidade”

A Tesla, conhecida por suas práticas trabalhistas controversas nos Estados Unidos, busca impor seus próprios métodos de relações desse assunto na Suécia, desafiando a tradição de acordos bem-sucedidos entre empregados e empregadores que caracteriza a história sueca há décadas.

Enquanto a Tesla argumenta que oferece cenário favorável em pagamento e ambiente de operação, a recusa em negociar com os metalúrgicos locais levanta questionamentos sobre o compromisso da empresa com a cultura de negociação direta, que é uma marca registrada do modelo de trabalho sueco. Esse embate, aparentemente sobre trabalho e salários, transcende os interesses imediatos dos 300 funcionários da Tesla na Suécia.

A perspectiva sueca é que essa disputa não é apenas sobre os termos empregatícios na Tesla, mas sim sobre a capacidade dos trabalhadores suecos de manterem seu legado de organização e negociação direta com os empregadores.

As apostas são altas também para Musk. Ele é contra sindicatos (recentemente afirmou discordar da ideia deles) e comanda a única grande fabricante de automóveis americana que mantém sua força de trabalho doméstica sem associações. Trabalhadores da Tesla em outros países europeus, muitos não sindicalizados, observam de perto o conflito sueco e podem se inspirar para agir.

Numa análise mais ampla, o embate com a Tesla é interpretado como um teste crucial para o futuro das relações entre capital e trabalho na Suécia. Pesquisas indicam que a maioria dos suecos apoia a greve, e carros que passavam buzinavam em sinal de apoio. Em um momento, um jovem do sindicato que representa trabalhadores da área de hospitalidade apareceu para mostrar solidariedade aos mecânicos. “Para mim, é uma questão de princípio”, disse ele.

Segundo a reportagem, algumas pessoas acham que o IF Metall foi longe demais. Um porta-voz da filial sueca da Tesla afirmou que, como muitas empresas, a Tesla optou por não fazer um acordo coletivo porque seus funcionários eram “recompensados com termos e condições justos” e que mais de 90% deles optaram por permanecer em seus cargos. Acrescentou que a empresa superou muitos desafios em seus 20 anos de história devido à sua “abordagem única para resolver problemas”.

O desfecho dessa batalha não apenas determinará o destino dos trabalhadores da Tesla, mas possivelmente influenciará o futuro das negociações trabalhistas em todo o país. Os embates no ambiente da marca automotiva, no entanto, não encontram reações acaloradas da opinião pública suecas – algumas pessoas simplesmente dão de ombro, mostrando desconhecer a profundidade do tema.

Em um bar frequentado por operários, no entanto, as falas são mais passionais. Um dos trabalhadores ouvidos pela reportagem classificou a proposta da Tesla com termos ofensivos. Em seguida, atravessou a mesa e encarou o repórter de forma bastante enfática, afirmando: “O Musk não entende a Suécia”.

 

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