Drones expõem fragilidade do espaço aéreo europeu e elevam risco de incidentes

23 de setembro de 2025 4 minutos
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O fechamento repentino do aeroporto de Copenhague na segunda-feira, provocado pela presença de drones não identificados, sinaliza um novo patamar de vulnerabilidade para a infraestrutura crítica europeia. As operações só foram retomadas na madrugada desta terça-feira, após horas de paralisação. Dias antes, no fim de semana, o aeroporto de Oslo enfrentara situação semelhante, e tanto Polônia quanto Estônia reportaram invasões de seu espaço aéreo por aeronaves russas. A sucessão de episódios amplia a percepção de risco nos céus do norte e noroeste do continente, onde o tráfego aéreo denso convive com tensões geopolíticas crescentes.

A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, classificou o incidente como “o ataque mais grave até hoje contra a infraestrutura do país”. Embora autoridades evitem apontar diretamente Moscou, a suspeita paira sobre a Rússia, cuja conduta tem sido qualificada por União Europeia e OTAN como irresponsável após violações recentes em múltiplas fronteiras. Para os serviços de inteligência da Dinamarca, o risco de sabotagem permanece elevado e a investigação envolve cooperação internacional.

O episódio também teve repercussão política mais ampla. Na segunda-feira, em Nova York, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky mencionou a violação do espaço aéreo dinamarquês durante uma reunião com a diretora-gerente do FMI, à margem da Assembleia Geral da ONU. Já nesta terça-feira, em Bruxelas, a EU reforçou apoio à Dinamarca e à Noruega, com a porta-voz de política externa Anitta Hipper destacando que os ataques se inserem em um padrão de ações que testam a segurança das fronteiras do bloco.

Os eventos na Dinamarca e na Noruega ocorrem dias depois de, na sexta-feira, três caças MiG-31 russos terem sobrevoado a Estônia por doze minutos, levando Tallinn e Varsóvia a acionar o Artigo 4 do tratado da OTAN, que prevê consultas entre aliados em caso de ameaça à segurança. A aliança, em resposta, reforçou o envio de caças e sistemas de defesa para o flanco leste, advertindo que violações frequentes aumentam o risco de erro de cálculo e colocam vidas em perigo. Também na terça-feira, o novo secretário-geral da organização, Mark Rutte, afirmou que a OTAN está pronta para defender cada centímetro de território de seus membros.

A pressão por regras mais claras de engajamento aumenta entre os Estados de fronteira, que exigem liberdade para abater aeronaves intrusas sem depender de longos processos políticos. O debate expõe um dilema: equilibrar firmeza militar com a necessidade de evitar escaladas que possam levar a confronto direto com Moscou.

Europa sob teste

Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou nesta terça-feira que há um padrão de contestação persistente em nossas fronteiras e prometeu uma resposta com força e determinação. Entre as propostas em discussão está a criação de uma muralha de drones na fronteira oriental da UE, destinada a detectar e neutralizar incursões. Ministros da Defesa, incluindo o da Dinamarca, discutirão o plano nos próximos dias.

Para além da retórica, os episódios revelam uma lacuna estrutural: apesar de contar com caças de última geração e mísseis sofisticados, muitos países da OTAN não possuem sistemas de defesa mais baratos e ágeis contra drones, semelhantes aos empregados pela Ucrânia. O custo assimétrico é evidente: um drone pode custar cerca de 20 mil dólares, enquanto um único míssil ocidental ultrapassa 500 mil dólares.

Moscou nega, mas tensões persistem

O Kremlin rejeita as acusações e afirma que suas aeronaves cumprem as regras internacionais. Autoridades russas dizem que não há provas concretas das violações. Apesar disso, analistas europeus observam que a sucessão de incidentes sugere uma estratégia de Moscou para sondar a prontidão da OTAN e testar a coesão política da aliança.

Investigações preliminares na Dinamarca levantam a hipótese de que alguns dos drones possam ter sido lançados a partir de navios, dado que o aeroporto de Copenhague fica próximo ao mar Báltico, uma das rotas mais movimentadas do mundo. A região é cortada por navios da frota paralela russa que transporta petróleo sujeito a sanções, o que adiciona outra camada de complexidade ao caso.

 

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