A Dinamarca começa nesta quarta-feira (15/4) a retomar suas atividades após mais de um mês de medidas para conter a disseminação do coronavírus. Em ampla quarentena desde o dia 11 de março, o país adotou um dos mais longos e restritivos regimes de isolamento social de toda a Europa. Agora, ele começará a colher os frutos do esforço coletivo.
Na segunda-feira, o governo informou que, a partir desta quarta, creches, jardins de infância e escolas para alunos até a quinta série já poderão reabrir suas portas. Como o país conseguiu evitar a sobrecarga de seu sistema hospitalar, os serviços de saúde também voltarão a fazer tratamentos menos críticos.
Depois de revelado esse cronograma inicial de retomada, a primeira-ministra Mette Frederiksen disse nesta terça (14/4) que o país poderá até mesmo ampliar as medidas de reabertura. Ela não deu maiores detalhes sobre que passos adicionais serão dados, já que eles ainda estavam em discussão.
Restrições não têm “isolamento vertical” nem outros paliativos
O governo dinamarquês impôs as medidas de isolamento social antes mesmo de o país registrar a primeira morte causada pela covid-19. Não houve “isolamento vertical” ou qualquer paliativo do gênero. Escolas, empresas, bancos, repartições públicas e outras instituições deixaram de operar ao longo desse período. Reuniões com mais de dez pessoas foram proibidas, e as fronteiras também foram fechadas. Só podiam atravessá-las cidadãos dinamarqueses ou estrangeiros com residência fixa em seu território.
Inicialmente, as restrições deveriam durar duas semanas, mas, com o crescimento do número de casos e também de mortos, decidiu-se que elas seriam mantidas até depois da Páscoa. Até esta terça, das 6.706 pessoas infectadas pela covid-19, 299 haviam morrido.
Agora, segundo as autoridades, a situação já está sob controle. O vírus seguirá ativo e fazendo vítimas – na Dinamarca e em todo o mundo -, mas em um ritmo que o sistema de saúde dinamarquês já consegue comportar. Afinal, as medidas de isolamento social não foram criadas para acabar com o coronavírus, para o qual ainda não há vacina. Em vez disso, elas pretendem evitar que ele se espalhe em uma velocidade que superlote hospitais, o que inviabilizaria o tratamento dos doentes.
A primeira-ministra citou a queda nos números de internações e de pacientes em unidades de tratamento intensivo como duas evidências de que a estratégia dinamarquesa tem sido bem-sucedida até aqui. “Bom trabalho, Dinamarca! Vamos continuar assim na segunda metade desta crise”, disse ela, em comunicado. “Estamos no caminho certo. Temos a situação sob controle.”
E a crise econômica? E os empregos?
Sim, a Dinamarca tem pela frente uma enorme crise econômica, com quebra e fechamento de empresas e aumento do desemprego. Mas isso também ocorrerá com países que têm sido menos restritivos em seu combate à pandemia; menos restrições não significam menos perdas para a economia, já que a crise já existe e atingirá todos.
Para fazer frente aos problemas econômicos causados pelo coronavírus, a Dinamarca anunciou um amplo pacote de apoio às empresas afetadas pela pandemia. As primeiras medidas, aliás, foram anunciadas um dia antes das restrições ao convívio social. E, para evitar demissões em massa, o governo anunciou que assumiria de 75% a 90% dos salários dos trabalhadores da iniciativa privada, desde que as empresas se comprometessem a manter o vínculo empregatício. A medida inclui trabalhadores autônomos.
Acima dos interesses de grupos, os interesses nacionais
Algumas das abordagens da Dinamarca foram vistas com ressalvas no país. O governo foi criticado, por exemplo, por impor o fechamento das portas de pequenos empreendimentos, como restaurantes, cafés e salões de beleza. A primeira-ministra Mette Frederiksen falou sobre o tema nesta terça.
“Como governo, o nosso papel não é olhar o interesse de um determinado grupo, mas tentar encontrar uma solução equilibrada, que seja boa em termos de saúde pública e que também ofereça melhora significativa nos empregos”, afirmou. Uma das prioridades agora é permitir que os dinamarqueses voltem ao trabalho, diz a premiê, mas a retomada será gradual, o que significa que nem todos poderão retornar ao mesmo tempo – e nem todas as condições de trabalho serão imediatamente as mesmas de antes da pandemia.
Segundo disse a líder dinamarquesa na segunda-feira, a suspensão das medidas de isolamento “provavelmente será como andar na corda bamba”. “Se ficarmos parados, podemos cair, e se formos muito rápidos, as coisas podem dar errado. É por isso que temos que dar um passo cauteloso de cada vez.”