Declínio do consumo de vinho na França é um sinal de alerta para a indústria

25 de junho de 2024 3 minutos
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A França, berço de algumas das vinícolas mais prestigiadas do mundo, está passando por uma transformação significativa em seus hábitos de consumo de vinho. Em um intervalo de 60 anos, o consumo anual per capita de vinho no país caiu dramaticamente, de 120 litros em 1960 para menos de 40 litros em 2020. Essa queda de quase 70% tem sido motivo de grande preocupação para a indústria vinícola francesa, um setor que há décadas sustenta a economia e a identidade cultural do país.

Hoje, menos de 10% dos franceses consomem ao menos uma taça de vinho por dia. As gerações mais jovens, especialmente, têm mostrado uma tendência crescente a evitar o álcool. Um quarto dos franceses entre 18 e 34 anos diz não consumir nada de álcool, e quase 40% afirmam não beber vinho. Em contraste, a preferência nacional parece estar mudando para a cerveja, que agora representa mais da metade de todo o álcool comprado nos supermercados.

Essa mudança nos hábitos de consumo não passou despercebida pelas vinícolas. No ano passado, o governo francês teve que desembolsar 200 milhões de euros para destruir o excesso de produção vinícola. Parte desse vinho foi convertida em etanol, e regiões icônicas como Bordeaux receberam financiamento adicional para destruir 9.500 hectares de terra vinícola.

A situação se agrava com outros desafios contemporâneos. A pandemia de covid-19 desorganizou cadeias de suprimentos globais, enquanto a guerra na Ucrânia elevou os preços de combustíveis e fertilizantes. As mudanças climáticas também têm um papel significativo, aumentando os prêmios de seguro para os agricultores. Além disso, a preferência dos consumidores está mudando: os espumantes, rosés e vinhos brancos de baixo teor alcoólico estão ganhando terreno sobre os tradicionais tintos.

O futuro não parece promissor para a indústria vinícola europeia. Até 2035, prevê-se uma queda de 7% tanto na produção quanto no consumo de vinho. No entanto, a situação não é uniforme em toda a Europa. Na Espanha, por exemplo, há um excesso de oferta de tintos de Rioja, enquanto a demanda por vinho branco continua alta. “Os agricultores terão problemas daqui a um ou dois anos, porque não é possível transformar tintos em brancos”, alerta José Luis Benítez, diretor geral da Federación Española del Vino.

Uma tradição em transformação

A combinação de uma geração jovem cada vez mais consciente da saúde, desafios econômicos globais e mudanças climáticas está forçando a indústria vinícola a se adaptar rapidamente. “O vinho tinto está sentindo mais. Mais pessoas estão bebendo espumantes, rosés ou vinhos brancos de baixo teor alcoólico em vez de tintos”, explica Christophe Chateau, porta-voz do Bordeaux Wine Council. A adaptação a essas novas realidades será crucial para a sobrevivência e prosperidade da vinicultura francesa e europeia nos próximos anos.

Enquanto a França e a Europa enfrentam esses desafios, a indústria vinícola global observa atentamente. O que acontece em Bordeaux e Rioja pode bem determinar o futuro do vinho no século XXI, e os produtores terão que inovar e se ajustar para manter viva essa tradição milenar.

 

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