Conheça Longyearbyen, a cidade norueguesa na qual é "proibido morrer"

Fama surgiu com o veto a sepultamentos, que existe há 70 anos; agora, com o aquecimento global, temor é que túmulos antigos comecem a descongelar (e possam trazer com eles vírus e bactérias letais)

25 de abril de 2019 4 minutos
Europeanway

Com pouco mais de 2 mil habitantes, Longyearbyen, capital do arquipélago de Svalbard, na Noruega, é tida como a cidade mais ao norte do mundo. Essa curiosidade geográfica é acompanhada por outra, tão inusitada quanto imprecisa: a de que é proibido morrer lá. A fama, ainda que indevida, ganha nova leitura com o aquecimento global, que ameaça descongelar antiquíssimos túmulos da região, o que, no pior dos cenários, poderia trazer de volta epidemias mortais.

Em 1950, Longyearbyen decidiu proibir sepultamentos em seu território quando se descobriu que corpos enterrados no cemitério local décadas antes haviam sido preservados pelo permafrost (ou "pergissolo"), solo constituído por terra, gelo e rochas que ficam permanentemente congelados por causa das baixas temperaturas. A ideia da proibição surgiu com o temor de que os corpos humanos tenham preservado microorganismos letais.

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Em 1918, Longyearbyen registrou mortes causadas pela gripe espanhola, que naquela época matou cerca de 40 milhões de pessoas no mundo. Anos depois, as autoridades perceberam que as vítimas ainda estavam intactas – e a descoberta levantou o medo de que o vírus que causou a pandemia também tivesse sido preservado. As cruzes dos sepultamentos feitos na época ainda estão no cemitério local, mas apenas como uma espécie de memorial: os corpos foram retirados de lá e cremados.

A preocupação é de que corpos ainda mais antigos possam voltar à superfície por causa do aquecimento global. O sinal de alerta surgiu em agosto de 2016, quando foi registrado um surto de antraz – infecção causada pela bactéria Bacillus anthracis – no norte da Sibéria, na Rússia, no qual um menino morreu e 90 outras pessoas foram hospitalizadas. Além disso, 2.300 renas morreram por causa da doença.

Antes disso, o registro mais recente de antraz havia ocorrido em 1941. O surto de 2016 ocorreu durante uma onda de calor na região, o que levou as autoridades a concluir que uma rena morta por antraz tinha descongelado, fazendo com que o vírus fosse libertado para o meio ambiente.

O minidocumentário Nobody Dies in Longyearbyen ("Ninguém morre em Longyearbyen", em tradução literal; assista abaixo), do diretor americano David Freid, trata justamente do temor de que doenças do passado retornem por causa do descongelamento do permafrost. “Talvez algumas doenças contagiosas saiam do permafrost, como pequenos zumbis despertando depois de um longo descanso", diz o cineasta no filme. 

 

Embora seja improvável que o descongelamento dos corpos em Longyearbyen possa causar um surto de gripe espanhola, em 1998, uma equipe de cientistas que estudam o vírus tomou precauções extras. Ao extrair amostras das sepulturas, eles usaram trajes espaciais modificados e tomaram todos os cuidados para que o tecido não descongelasse antes de chegar a uma instalação especializada nos Estados Unidos.

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