Como opera a última mina de carvão da sustentável Noruega

Hoje sinônimo de poluição da atmosfera, a atividade caminha para a extinção no país, um dos mais avançados na transição para fontes limpas de energia

23 de setembro de 2019 5 minutos
Europeanway

A Noruega, líder global do ranking de países mais "verdes", tem dado passos firmes para a adoção de fontes limpas de energia. Essa transição, é claro, não será imediata – afinal, o petróleo ainda é a indústria mais importante da economia norueguesa. Mas as mudanças aparecem com nitidez com o iminente fim da mineração de carvão no país, onde, hoje, apenas uma mina permanece ativa. 

Localizada no arquipélago de Svalbard, no extremo norte do país, a mina Gruve 7 caminha para a extinção. Operada pela empresa estatal SNSK, ela tornou-se a solitária representante da mineração de carvão norueguesa desde que o governo decidiu não mais subsidiar as duas outras minas até então em atividade, Svea e Lunchefjell, em 2017 – a extração do minério já havia sido interrompida em ambas no ano anterior. Não deixa de ser curioso que no arquipélago fique também o "bunker do apocalipse", que armazena sementes guardadas para repovoar a Terra em caso de uma catástrofe global.

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A Gruve 7 seguiu aberta para abastecer a usina térmica local, operada pela Energiverket. As duas empresas são as responsáveis pela maior parte dos empregos que existem em Longyearbyen, a principal cidade de Svalbard, com cerca de 2 mil habitantes. A mina produz entre 120 mil e 150 mil toneladas de carvão por ano. Desse volume, 20% são consumidos pela usina e o restante é exportado para a indústria metalúrgica da Alemanha.

Enquanto não deixa a extração de carvão definitivamente no passado, Svalbard faz planos para se reinventar. Um relatório do governo já apresentou o turismo como um dos setores com capacidade para substituir a mineração de carvão como geradora de emprego e renda no arquipélago.

A mineração não é apenas uma atividade econômica em Svalbard: ela faz parte da própria história de domínio da Noruega sobre o arquipélago ártico. Ao longo de um século, a extração de carvão foi um dos principais instrumentos usados pelo país para manter negócios e assentamentos na área, alvo de disputa geopolítica por mais de 300 anos. O Tratado de Svalbard, assinado em 1920, reconhece o controle norueguês sobre as ilhas, mas proíbe sua militarização.

Importante na geopolítica, o trabalho dos mineradores tem ainda relação profunda com a identidade local, o que faz desse também um fator para a permanência da atividade, ainda que em escala muito menor. "Eu trabalho aqui há 14 anos e adoro. Meu pai também trabalhou na mina, por 37 anos. E eu tinha ainda irmãos e tios que trabalhavam aqui, então cresci em uma família mineira", conta ao site Euronews, com orgulho, o mineiro Bent Jakobsen.

A decisão norueguesa de deixar a mineração no passado tem relação, claro, com a política ambiental do país, que prevê neutralizar suas emissões de carbono até 2030. Desde 1970, as temperaturas médias anuais aumentaram 4ºC em Svalbard, com as temperaturas do inverno subindo mais de 7ºC, segundo um relatório divulgado em fevereiro pelo Centro Norueguês de Serviços Climáticos. O relatório "Clima em Svalbard 2100" alerta que a temperatura média anual em Svalbard deve aumentar de 7ºC a 10ºC até o fim deste século.

Estatisticamente, Longyearbyen é a cidade de aquecimento mais rápido do planeta – e justamente por causa da queima de combustíveis fósseis, como o carvão extraído da mina Gruve 7. "Longyearbyen foi fundada por causa da mineração de carvão, e estamos desaparecendo", atesta Jakobsen. "Somos os últimos."

(Foto: Getty Images)

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