Como a Islândia, que celebra 100 anos de soberania, ficou independente duas vezes

País comemora centenário da independência neste 1º de dezembro, mas também tem o 17 de junho como data nacional; foram dois atos para desfazer de vez os laços com a Dinamarca

30 de novembro de 2018 4 minutos
Europeanway

A Islândia comemora neste 1º de dezembro o centenário de sua independência, data em que, mesmo em pleno sábado, o Parlamento do país estará aberto ao público como parte das celebrações. E os islandeses de fato valorizam sua existência como nação soberana: o país não tem apenas um, mas dois dias no calendário para festejar o orgulho nacional.

Explica-se: a Islândia conquistou sua independência no dia 1º de dezembro de 1918. Nessa data foi assinado o Forbundslov, ou Ato da União Dinamarca-Islândia. A lei reconheceu a Islândia como um estado independente, ainda que tenha se mantido sob a coroa dinamarquesa. Foi só em 17 de junho de 1944 que o país se tornou oficialmente uma república – o 17 de junho é, aliás, a data nacional com festa e desfiles nas ruas.

 

A dupla comemoração talvez seja também a desforra depois de séculos respondendo a reis estrangeiros. Em 1262, os islandeses desistiram de sua independência para se tornarem súditos do rei norueguês. Isso durou até 1380, quando os reinos da Dinamarca, Noruega e Suécia estavam unidos sob um único monarca. Desses países, a Dinamarca foi a que se impôs, e com o tempo ganhou domínio sobre a Noruega e a Islândia.

No século XIX, poetas e políticos islandeses começaram a defender a independência islandesa com mais vigor. Como uma distante colônia da Dinamarca, a Islândia sempre foi deixada mais ou menos à vontade para cuidar de sua própria vida, ainda que por muito tempo a Dinamarca tenha imposto um monopólio comercial à sua pequena colônia.

O Ato da União de 1918 foi um desdobramento de uma crescente autonomia do país, que no fim do século anterior já tinha seu próprio corpo legislativo e, na prática, seu próprio chefe de estado. Já em 1918 foi adotada a bandeira que os islandeses utilizam até hoje.

Em 1940, já com a Segunda Guerra Mundial em andamento, a Dinamarca foi ocupada pelos alemães, o que a afastou dos islandeses ainda mais. A ocupação alemã também adiou a revisão do Ato de União, o que estava previsto em lei para ocorrer justamente em 1940.

Os islandeses não queriam mais esperar e organizaram um plebiscito em maio de 1944 para decidir se estava na hora de extinguir por completo os laços com a Dinamarca e de criar uma nova constituição, republicana. Ambas as medidas receberam mais de 98% de aprovação – e nada menos que 98,4% dos islandeses aptos a votar participaram do referendo. Não havia dúvida do que eles queriam.

Embora fosse contra a cisão, o rei Cristiano X da Dinamarca enviou uma carta em 17 de junho de 1944 para parabenizar os islandeses pela formação de sua república. Coincidentemente, no 17 de junho comemora-se também o aniversário de Jón Sigurdsson, líder do movimento de independência que surgiu ainda no século XIX.

A, digamos, desvantagem de comemorar a independência em 1º de dezembro é que o frio já domina a paisagem. Desfiles com roupas frescas e céu azul, como na foto acima, só mesmo nas celebrações de junho, quando já é quase verão no país.

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