Comercial escandinavo sofre ataques ao celebrar multiculturalismo

26 de fevereiro de 2020 4 minutos
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A companhia aérea escandinava SAS tem enfrentado nas últimas semanas uma onda de ataques on-line motivada por uma campanha publicitária que ela celebra o multiculturalismo. Políticos de extrema-direita e grupos nacionalistas contrários a imigrantes estavam entre os mais ativos opositores dos comerciais veiculados pela empresa.

No último dia 10/2, a SAS, também conhecida como Scandinavian Airlines, levou ao ar um vídeo com uma frase de abertura impactante: “O que é verdadeiramente escandinavo? Absolutamente nada.” Na sequência, a peça mostra que alguns dos orgulhos da região – da democracia a garantias sociais, como a licença-paternidade – só existem nos países escandinavos porque foram trazidos de outros lugares.

“Nós pegamos tudo que gostamos em nossas viagens, ajustamos um pouco aqui e ali, e logo isso se torna algo unicamente escandinavo”, diz o vídeo da companhia aérea. O comercial tenta quebrar a ideia de que existe uma “cultura pura” e mostra como, ao longo da história, os povos influenciam uns aos outros. Não se tratava, assim, de desdenhar da cultura local, mas de reconhecer que ela só existe porque os escandinavos viajaram muito na história. Isso deu a eles informações e referências de outros lugares que fazem a região ser o que é hoje.

Onda de mensagens de ódio

Mas uma onda de mensagens de ódio tomou conta das contas da SAS nas redes sociais. Com isso, menos de 24 horas depois de divulgar o vídeo, a companhia aérea decidiu tirá-lo do ar. Segundo ela, o padrão e o volume das manifestações negativas sugeriam que se tratava de um ataque digital coordenado. “Não queremos arriscar de nos tornarmos palanque para o compartilhamento de visões com as quais não concordamos”, disse a companhia, em nota.

E de fato há indícios de que houve ataque coordenado. O portal americano Mother Jones analisou o fórum sobre política do 4Chan, site conhecido por abrigar discursos de ódio. Em todos os tópicos visitados pela reportagem havia links para o vídeo da SAS com incentivos para as pessoas manifestarem sua desaprovação. A companhia aérea acabou desativando os comentários.

No dia 12/2, em novo comunicado, a SAS reiterou sua concordância com a mensagem-chave do vídeo, de que viajar nos enriquece, e informou que a campanha seria mantida. Mas, para transmitir a ideia com mais “clareza”, foi ao ar uma nova versão do vídeo, mais curta, com 45 segundo de duração (assista abaixo). A original, que também voltou ao ar, tinha quase três minutos.

Boicote à empresa e ameaça de bomba

Líderes nacionalistas e de extrema-direita dinamarqueses e suecos disseram que o vídeo era um desrespeito à cultura escandinava, e alguns escreveram nas redes sociais que não entrarão em um voo da SAS no futuro. Em outro desdobramento do episódio, a agência de publicidade dinamarquesa &Co, que idealizou a campanha, recebeu por e-mail uma ameaça de bomba. A mensagem levou a polícia a fechar brevemente uma rua no centro de Copenhague para que o prédio pudesse ser revistado, mas nenhum explosivo foi encontrado.

Com sedes na Suécia, Dinamarca e Noruega, a SAS foi eleita no ano passado uma das melhores companhias aéreas do mundo. Em seus comunicados sobre a campanha, a empresa reafirmou o “orgulho de sua herança escandinava”. Essa herança, defende a SAS, só existe porque a região – como qualquer outra parte do mundo – teve influência de outros povos ao longo de sua história. E, no encerramento do vídeo, a companhia resume seu raciocínio: “Mal podemos esperar para saber que coisas maravilhosas traremos para casa em nossa próxima viagem.”

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