Na Finlândia, "happy hour" não é sinônimo apenas de drinques e diversão após um dia de trabalho: a expressão significa também menos desperdício de comida – e descontos no supermercado. A expressão foi escolhida pela rede S-market para batizar um programa que diminui os preços dos alimentos, em um esforço para evitar que comida boa acabe indo para para o lixo.
Todos os dias, as 900 lojas da rede, que pertence à cooperativa S-ryhmä (ou "Grupo S"), reduz o preço de itens perecíveis, como carne, que estão com o prazo de validade perto de expirar. Em uma primeira leva, os preços caem 30%. Depois, pontualmente às 21h, três horas antes da data de vencimento, o desconto passa a ser de 60%.
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O programa da rede finlandesa ganhou destaque no jornal americano The New York Times. "Eu fiquei bem viciado nisso", disse à publicação Kasimir Karkkainen, de 27 anos, que trabalha em uma loja de ferragens e havia acabado de passar pela seção de carnes da loja da rede localizada de Vallila, um bairro operário de Helsinque. Às 21h15, Karkkainen tinha em mãos uma embalagem com um quilo de costelinha de porco que havia custado o equivalente a quase R$ 19. O preço cheio seria de mais de R$ 47.
A iniciativa do supermercado é mais um dos exemplos finlandeses de abordagem sustentável na relação de empresas e pessoas com os alimentos. Cerca de um terço da comida produzida e embalada para consumo humano é perdida ou desperdiçada, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Isso equivale a 1,3 bilhão de toneladas por ano, volume que corresponde a quase US$ 680 bilhões.
Os números são mais do que apenas um desencontro de oferta e demanda (hoje, 10% das pessoas no mundo têm desnutrição crônica): eles representam um elemento adicional nas mudanças climáticas do planeta, segundo os cientistas. Entre 8% e 10% das emissões de gás de efeito estufa têm relação com os alimentos perdidos durante as etapas de produção, colheita e transporte ou desperdiçados pelo consumidor, segundo um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), organização criada em 1988 no âmbito das Nações Unidas.
Aterros com restos orgânicos produzem metano, um gás 25 vezes mais prejudicial ao meio ambiente que o dióxido de carbono. E, para produzir e transportar toda essa comida, bilhões de hectares de terra arável, trilhões de galões de água e vastas quantidades de combustíveis fósseis são necessários.
Em tempo: "happy hour" foi o nome escolhido para o programa para tentar atrair adesões de outras empresas e segmentos (como bares, por exemplo). E se a ideia fosse trazida para o Brasil?
(Foto: Juho Kuva / The New York Times)