Como são as “cidades à prova de chuva” da Dinamarca

17 de fevereiro de 2020 4 minutos
enchente barragem cidade à prova de chuva

A temporada de chuvas no Sudeste brasileiro, que vai de 1º de outubro a 31 de março, tem causado estragos há décadas, mas poucas vezes ela foi tão destruidora quanto no ciclo atual. Em São Paulo, só o comércio estima que o temporal do último dia 9 tenha causado perdas de R$ 110 milhões, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Em Belo Horizonte, as tempestades registradas em janeiro levaram as estatísticas de Minas Gerais para níveis catastróficos. Entre os dias 1º de outubro e 1º de fevereiro, 71 pessoas morreram por causa das inundações no estado, de acordo com a Defesa Civil mineira. Será que não há nada que possa ser feito? Sim, há – e as “cidades à prova de chuva” da Dinamarca apresentam algumas ideias.

Em várias partes do mundo, os urbanistas têm criado soluções que priorizam a rápida drenagem da água em vez de soluções mais tradicionais, como bocas de lobo e encanamentos subterrâneos. As cidades que adotam essa abordagem têm sido chamadas de “esponja”.

Mudança após prejuízo bilionário

Entre as “cidades à prova de chuva” está a dinamarquesa Frederiksberg, na região metropolitana de Copenhague. O município decidiu tentar uma nova solução ao registrar em julho de 2011, em apenas uma hora e meia, um volume de chuvas de 150mm. As perdas na região de Copenhague chegaram a 6 bilhões de coroas (ou R$ 3,7 bilhões, segundo o câmbio atual).

Frederiksberg criou um sistema capaz de “amortecer” grandes volumes de água para, em seguida, dispersá-los de maneira segura. Uma das iniciativas foi colocada em prática na praça Langelands, ponto alto mais alto da cidade e local a partir de onde a água da chuva corre para Copenhague.

Em 2019, a praça, com área de 3 mil metros quadrados, ganhou um material fibroso (stone wool) que funciona como uma esponja e libera a água de maneira lenta. A cada litro de água despejado, o material pode absorver até 950ml, conta o portal G1, citando informações do fabricante.

Barragem e parque público

A ideia de aumentar a absorção da água pelo solo é o raciocínio comum a todas as cidades-esponja, mas as soluções são diferentes entre si. Viborg, a cerca de 330km da capital dinamarquesa, transformou uma área ampla em estrutura anti-inundação – e também em local de lazer para os moradores.

Próxima da região central, até poucos anos a área era utilizada para os treinos de um clube de futebol local. Com o projeto, o terreno, pantanoso, que costumava alagar com facilidade, foi adaptado para servir como barragem (foto). O lago Søndersø, que já existia no local, agora tem em torno dele um terreno ondulado, com áreas de transbordamento. Assim, a depender do volume de chuvas, a área ocupada pela água cresce. Em temporadas mais secas, ilhas submersas reaparecem e servem como local de passeio e reunião de famílias.

– Cidade dinamarquesa usará água do mar para se aquecer no inverno

O SØnæs, como o projeto foi batizado, cumpre ainda uma terceira tarefa: além de conter inundações e ser local de lazer para a população, ele serve também para “limpar” o Søndersø. Como o lago tem altas concentrações de fósforo e nitrogênio, as águas pluviais ajudam a diluir o material que há décadas está armazenado no local.

Iniciativas em Copenhague

Copenhague também tem adotado técnicas que a incluem entre as cidades-esponja. Em espaços públicos como o parque Tåsinge Plads, os canteiros se enchem de água e esperam a drenagem até o escoamento da tempestade. Em paralelo, estruturas em formato de guarda-chuvas de cabeça para baixo coletam a chuva que mais tarde servirá para irrigar a vegetação.

As águas pluviais são direcionadas para tanques subterrâneos, e até as brincadeiras infantis na superfície estão previstas no projeto: corridas e pulos das crianças nos painéis que ficam no chão bombeiam a água pelos canos.

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