China sustenta crise em fábricas europeias por controle de terras-raras

12 de junho de 2025 4 minutos
shutterstock

A indústria automotiva europeia enfrenta uma nova rodada de tensões produtivas após as recentes restrições impostas pela China à exportação de terras-raras e ímãs de alta potência. Desde abril, empresas que dependem desses materiais para fabricar motores elétricos, componentes de direção e eletrônicos embarcados vêm relatando gargalos que já levaram à paralisação parcial de linhas de montagem e reavaliação de estoques estratégicos.

As novas regras de exportação, determinadas pelo Ministério do Comércio chinês, exigem que companhias estrangeiras submetam pedidos detalhados com informações comerciais sensíveis — incluindo dados técnicos, nomes de clientes, imagens e vídeos dos processos de uso — como pré-condição para a obtenção de licenças. A medida gerou preocupação entre fornecedores europeus de autopeças e eletrônicos, que enxergam a exigência como uma barreira comercial velada, além de um risco à propriedade intelectual e à competitividade tecnológica.

O impacto direto se concentra no setor de mobilidade elétrica, que depende fortemente de terras-raras como neodímio e disprósio. Tais elementos são essenciais na fabricação de ímãs permanentes utilizados em motores de veículos elétricos e híbridos. A cadeia de suprimentos global, no entanto, está fortemente concentrada: a China detém cerca de 90% do processamento mundial desses materiais, além de dominar os fluxos logísticos e tecnológicos associados.

Esse quadro revela uma vulnerabilidade estrutural da Europa em plena transição energética. A demanda por componentes de baixo carbono cresce, mas a infraestrutura industrial regional ainda não oferece alternativas viáveis de curto prazo — seja em extração mineral, refino ou reciclagem.

A resposta europeia passa por marcos regulatórios como o Critical Raw Materials Act, aprovado para estimular a autonomia em insumos estratégicos. A meta é que, até 2030, ao menos 10% do consumo europeu de minerais críticos venha de extração local, 40% seja processado dentro do bloco e 25% reciclado. O desafio, porém, está no tempo: esses investimentos demoram anos até maturação técnica e econômica.

Enquanto isso, os países-membros buscam parcerias com mercados como Austrália, Canadá, Brasil e Estados Unidos. No Brasil, por exemplo, empresas como a Aclara Resources, com apoio logístico norte-americano, iniciaram projetos voltados à exportação de terras-raras para o Ocidente. Mas, diante do domínio consolidado de Pequim sobre todas as etapas da cadeia — do minério bruto ao produto final —, qualquer diversificação ainda é incipiente.

Entre a diplomacia e o pragmatismo

Entidades setoriais como a CLEPA (associação europeia de fornecedores automotivos) e a VDMA (engenharia industrial da Alemanha) têm feito pressão sobre a Comissão Europeia para um posicionamento mais firme junto à China. O receio é que a exigência de compartilhamento de dados se torne um precedente para outros insumos críticos, afetando não apenas a competitividade, mas também a segurança industrial do bloco.

Por ora, a abordagem europeia tem evitado o confronto direto, buscando canais diplomáticos para aliviar as exigências. No entanto, o episódio reforça uma tendência crescente: recursos minerais estão sendo incorporados à geopolítica global como instrumentos de influência e barganha.

A curto prazo, fabricantes vêm ajustando turnos e replanejando entregas para contornar a escassez. Ainda não há indicativos de colapso sistêmico, mas o risco de desaceleração mais prolongada persiste, especialmente entre fornecedores menores, que têm menor capacidade de estocar ou diversificar insumos.

A médio prazo, o gargalo deve acelerar investimentos em reciclagem de ímãs, projetos de refino em países aliados e estratégias de estocagem crítica — iniciativas já em curso na Alemanha, França e nos países nórdicos. O custo, porém, será inevitavelmente repassado à cadeia, podendo gerar pressão inflacionária em segmentos como veículos elétricos, turbinas eólicas e dispositivos de tecnologia avançada.

 

Europeanway

Busca