O jornal Jyllands Posten, da Dinamarca, gerou uma série de manifestações de indignação na China com uma charge que retrata o coronavírus na bandeira do país. Na ilustração, publicada na última segunda-feira (27/1), as estrelas amarelas da bandeira chinesa são substituídas por uma representação do vírus. O surto de pneumonia viral, surgido na metrópole de Wuhan, na região central do país, já matou mais de 100 pessoas.
A embaixada da China na Dinamarca quer que o jornal peça desculpas pela publicação com referência ao coronavírus; as autoridades chinesas em Copenhague a chamaram de “insulto à China e ao povo chinês”. “Expressamos nossa forte indignação e exigimos que o Jyllands-Posten e [o cartunista] Niels Bo Bojesen peçam desculpas publicamente ao povo chinês”, diz mensagem no site da embaixada. A representação diplomática chinesa diz ainda que o desenho superou o “limite ético da liberdade de expressão”.
Nesta quarta-feira (29/1), o veículo defendeu a charge e disse que não fará nenhuma retratação sobre ela. Em uma nota publicada em inglês e mandarim e assinada por Jacob Nybroe, editor do jornal, o Jyllands-Posten reiterou a mensagem de defesa da liberdade de imprensa (veja a íntegra da nota no fim deste texto).
Líderes dinamarqueses defendem o jornal
Políticos e autoridades dinamarquesas defenderam o veículo. Sem fazer a China, o jornal ou o coronavírus, a primeira-ministra Mette Frederiksen reafirmou o compromisso seu com a liberdade de imprensa. “Eu não tenho nada mais a dizer sobre isso, exceto que temos uma tradição muito, muito forte na Dinamarca, não apenas de liberdade de expressão, mas também de desenhos satíricos, e isso vai continuar”, disse ela. “Essa é uma posição dinamarquesa bem conhecida, e não vamos mudar isso.” Em todos os comparativos internacionais sobre o tema, a Dinamarca aparece entre os países com maior liberdade de imprensa do mundo.
Fundado em 1871, o Jyllands-Posten é o jornal de maior circulação da Dinamarca. O veículo é o mesmo que gerou forte reação da comunidade muçulmana ao publicar uma charges retratando o profeta Maomé. O episódio, ocorrido em 2005, também gerou debate internacional sobre temas como autocensura e liberdade de expressão.
Leia a nota publicada pelo Jyllands-Posten:
“É evidente que a charge do coronavírus publicada pelo Jyllands-Posten incomodou muitas pessoas porque a bandeira chinesa é usada como ilustração. Em nenhuma hipótese a intenção foi ofender o povo chinês nem usar o grave quadro atual, em que o coronavírus está custando vidas humanas, para fazer graça.”
“A charge apresenta a evolução dessa doença, que está se espalhando pela China e por outros países do mundo. Com um desenho, e dada a limitação inerente de espaço, a bandeira chinesa foi usada para contar essa história; da mesma maneira, bandeiras de outros países, como as da Dinamarca e dos Estados Unidos, costumam ser usadas em contextos caricatos, de maior ou menor grau. O Jyllands-Posten celebra o princípio da liberdade de expressão e dá espaço para opiniões divergentes. Às vezes, isso pode levar algumas pessoas a se sentirem ofendidas – e, embora possamos ter empatia com esse sentimento, ele não forma a base das decisões editoriais do jornal. No entanto, gostaríamos de reiterar que de forma alguma a intenção da charge era ofender.”
Jacob Nybroe