A Europa está testemunhando uma realidade climática divergente que repercute diretamente no setor agrícola do continente. As mudanças climáticas se tornaram mais evidentes e impactantes na região, apresentando desafios significativos para os agricultores europeus.
De acordo com o último boletim climático e de lavouras do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a Europa enfrenta temperaturas acima da média, o que pode prejudicar as culturas de inverno. No entanto, mesmo com a queda nas temperaturas, o frio ainda não foi suficiente para induzir o estado de dormência nas plantações.
No oeste e sul da Europa, uma grande área de alta pressão quase estacionária está mantendo o clima quente e seco. As temperaturas estão muito acima do normal, variando de 3 a 9°C acima da média histórica, estendendo-se desde a Espanha e França até os Bálcãs ocidentais.
Essas condições climáticas estão acelerando o ritmo de colheita das culturas de verão, no entanto, também estão causando uma elevação nas perdas de umidade do solo, com precipitações nos últimos 60 dias abaixo de 50% da média em grande parte do sul da Europa.
Por outro lado, o norte e nordeste da Europa estão sob a influência de chuvas intensas. Uma série de instabilidades que se deslocam ao longo do perímetro norte trouxeram precipitações significativas, variando de 10 a 120 mm, desde a Inglaterra e os Países Baixos até a Polônia e os Estados Bálticos. Essas chuvas têm mantido ou até melhorado a umidade do solo, favorecendo o crescimento das culturas de inverno na região.
É importante notar que a primeira geada da temporada foi observada desde o norte da Romênia em direção ao norte. No entanto, as temperaturas médias dos últimos dias permaneceram acima de 5°C. Isso significa que as culturas de inverno ainda não entraram em estado de dormência, o que pode ter implicações significativas para a safra.
Diante deste cenário desafiador, os agricultores europeus estão se esforçando para se adaptar. Muitos estão investindo em tecnologias de agricultura de precisão, sistemas de irrigação mais eficientes e práticas de cultivo sustentáveis para minimizar os impactos das mudanças climáticas. Além disso, os governos e organizações estão desenvolvendo políticas de apoio e estratégias de adaptação para auxiliar o setor agrícola a enfrentar esses desafios.
COP28: combustíveis fósseis e o impacto no aquecimento global
Em um encontro recente em Bruxelas, Bélgica, os ministros do clima dos 27 países da União Europeia se reuniram para forjar uma posição unificada em preparação para a próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP28, marcada para acontecer no final de novembro em Dubai, Emirados Árabes Unidos. No entanto, um dos tópicos cruciais que gerou divergências entre os governos europeus é a questão da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.
O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), conhecido como “Climate Change 2023/Synthesis Report,” ressalta que os setores de energia, transportes, indústria e construção civil são responsáveis por uma parcela substancial, correspondendo a 79%, das emissões mundiais de GEE (gases de efeito estufa). Na Europa, 75,4% das emissões de GEE provêm da queima de combustível fóssil, enquanto outros setores contribuem com 22,8%. A agricultura europeia, por sua vez, representa 10,7% do total de emissões de gases de efeito estufa na região.
A Comissão Europeia propõe que a União Europeia defenda em Dubai um cronograma para que os países cessem a produção e o consumo de energia derivada de combustíveis fósseis nas próximas décadas, em consonância com o que a comunidade científica sustenta como crucial para conter o aquecimento global nos limites estabelecidos pelo Acordo de Paris. Essa abordagem é apoiada por pelo menos 10 países da UE, incluindo nações como Alemanha, Eslovênia, Dinamarca, França, Irlanda e Países Baixos.
No entanto, um grupo de países liderado por Eslováquia, Hungria, Itália, Malta, Polônia e República Tcheca defende uma abordagem mais cautelosa. Eles propõem uma eliminação progressiva restrita aos chamados combustíveis fósseis “incompensáveis” (unabated). Essa abordagem permitiria que os países continuassem a queimar combustíveis fósseis, desde que estivessem vinculados a tecnologias de captura e armazenamento de carbono.
A discussão sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é central na busca de soluções para mitigar as mudanças climáticas. As decisões tomadas na COP28 terão um impacto significativo no futuro do planeta e na capacidade de limitar o aquecimento global a níveis aceitáveis. A União Europeia, como um dos principais atores no cenário internacional, desempenha um papel crucial na definição de políticas que irão moldar o curso das ações climáticas globais.