Nos últimos anos, Portugal emergiu como um destino atrativo para milhares de investidores, turistas e famílias de alta renda, que reconheceram o potencial do país e o escolheram como local ideal para investir em imóveis de veraneio ou até mesmo para fixar residência permanente.
Ao longo deste século, Portugal passou por um notável processo de modernização, destacando-se como uma nação que avança de maneira sólida e eficaz, sem sucumbir aos desafios frequentemente enfrentados por outros membros da União Europeia (UE).
Diferenciando-se de alguns de seus vizinhos europeus, Portugal tem sido capaz de evitar as fortes polarizações políticas que afligem a vizinha Espanha, as bruscas mudanças no eixo de poder observadas na Itália, as grandes demandas sociais evidenciadas por protestos e greves na França, e as sensibilidades geopolíticas geradas pela invasão da Ucrânia pela Rússia, um tema que ocupa a agenda de países como Polônia, Suécia e Finlândia.
A tranquila Portugal possui uma renda per capita maior do que a de qualquer país latino-americano (o dobro da brasileira); construiu eficientes sistemas de ensino e de saúde; atualizou sua infraestrutura.
Mas apesar dos avanços em várias frentes, Portugal parece não ter conseguido escapar da armadilha representada por um conhecido problema presente mesmo em países democráticos de boa governança: a corrupção
Investigação causou saída do primeiro-ministro
Desde a sua posse, em 2015, a gestão do hoje ex-primeiro-ministro António Costa vem acumulando uma série de ocorrências que envolvem atos de características duvidosas em diversas áreas, que acabaram minando a popularidade do governante com a população.
O líder entregou sua demissão ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, por conta de uma investigação de um suposto caso de corrupção.
Tendo a residência oficial e outras propriedades relacionadas revistada por 140 investigadores, Costa disse na TV que achou por bem sair de sua posição, por julgar o processo incompatível com a sua permanência no cargo.
As irregularidades em foco nessa investigação estão relacionadas a concessões de duas minas de lítio, um projeto ligado a uma central de produção de hidrogênio e outro de construção de um data center.
O país encontra-se, no momento, sob um clima de incertezas, diante de quais serão os próximos passos do presidente: Haverá uma nova eleição? O parlamento será dissolvido? A ultradireita portuguesa vai sair fortalecida com a queda do líder socialista?
O descontentamento com o mandato de Costa também tem forte relação com questões de agravamento na economia. Apesar do panorama apresentado no início deste artigo, há um quadro de disparada na inflação nos últimos anos.
Somam-se ao cenário uma relevante crise de habitação no país, com os portugueses tendo de deixar os grandes centros por conta dos altos valores cobrados pelo aluguel. A educação também registra alta nos custos, dificultando o acesso dos mais jovens.
Casos envolvendo corrupção também aconteceram nos últimos anos, como a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o escândalo da empresa de aviação TAP e a chefe do Tesouro Nacional português.
Esses casos estão desgastando a imagem do governo perante a população e, com a ascensão dos partidos de ultradireita, com ele se tornam mais comuns discursos que agregam xenofobia, racismo e misoginia.
Portugal está ciente dessa vulnerabilidade e, ao enfrentar o problema de frente, busca fortalecer suas instituições e aprimorar mecanismos de combate à corrupção. Enquanto os investidores, turistas e novos residentes continuam a ser atraídos pelos encantos das terras lusitanas, a superação desse desafio será fundamental para consolidar a posição do país como um destino de excelência – não apenas em termos econômicos, mas também de integridade e governança.