Calor recorde na Europa agrava cenário de pobreza energética

19 de agosto de 2024 4 minutos
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A Europa enfrenta um novo e alarmante desafio: a crescente pobreza energética em decorrência das ondas de calor recorde que assolam o continente. Em 2023, a região experimentou um número sem precedentes de dias com “estresse térmico extremo”, onde a sensação térmica ultrapassou os 46°C. Essa situação crítica afeta milhões de europeus que, além de sofrerem com invernos rigorosos, agora também enfrentam verões insuportáveis em suas próprias casas.

De acordo com o relatório “Estado do Clima na Europa”, publicado pelo observatório Copernicus em parceria com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a Europa é o continente que aquece mais rápido no planeta, com temperaturas subindo a uma taxa quase duas vezes maior que a média global. Esse aumento tem impactos devastadores, tanto econômicos quanto sociais, atingindo especialmente as populações mais vulneráveis.

Tradicionalmente, a pobreza energética na Europa é associada ao inverno, quando milhões de famílias lutam para manter suas casas aquecidas. No entanto, o aquecimento global e as ondas de calor cada vez mais intensas têm criado um novo tipo de pobreza energética, desta vez no verão. O isolamento térmico deficiente, a falta de ventilação adequada e o custo elevado da energia deixam muitos europeus expostos a temperaturas perigosas dentro de suas próprias residências.

Dados do Eurostat revelam que cerca de 19% dos lares europeus não conseguem manter uma temperatura confortável durante o verão. Esse número tende a crescer à medida que as mudanças climáticas intensificam as ondas de calor, com previsões indicando que até 2100, o número de europeus expostos a essas condições extremas pode aumentar de 10 milhões para 100 milhões.

A exposição prolongada ao calor extremo tem consequências graves para a saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o estresse térmico é a principal causa de morte relacionada ao clima na Europa, agravando doenças crônicas e levando a problemas respiratórios, cardiovasculares e até mentais. Em 2023, estima-se que mais de 175 mil pessoas morreram na Europa em decorrência do calor, com o sistema de saúde sendo severamente sobrecarregado.

As famílias de baixa renda, especialmente aquelas que vivem em áreas urbanas densamente povoadas, são as mais afetadas. Nesses locais, a ausência de áreas verdes e a abundância de concreto transformam as cidades em verdadeiras ilhas de calor, onde as temperaturas permanecem altas até mesmo à noite, dificultando o resfriamento das residências e aumentando o risco de doenças associadas ao calor.

Diante desse cenário, diversas organizações e especialistas têm defendido a necessidade de adaptações urgentes nas infraestruturas urbanas e nas políticas energéticas da Europa. Melhorar o isolamento térmico das edificações, utilizar cores claras nas fachadas e telhados, instalar toldos e aumentar a vegetação urbana são algumas das medidas sugeridas para combater o problema.

A ONG espanhola ECODES, por exemplo, tem promovido workshops para ensinar estratégias de redução das contas de energia e manejo do calor no verão. Porém, muitos moradores relatam dificuldades em implementar essas medidas devido aos altos custos e à falta de apoio governamental.

Além disso, cidades como Atenas, que estão na linha de frente do aquecimento global, já começaram a nomear responsáveis pelo calor e a categorizar ondas de calor, visando alertar e proteger melhor a população. No entanto, especialistas afirmam que essas ações, embora positivas, ainda são insuficientes para enfrentar a magnitude do desafio.

Apesar de existir financiamento disponível, como o fundo NextGeneration da União Europeia, pouco foi feito para implementar a renovação das residências e adaptar as cidades às novas realidades climáticas.

 

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