
A União Europeia registrou redução de 38% no número de detenções de imigrantes em situação irregular em 2024, totalizando 239 mil casos, o menor índice desde 2021. Dados preliminares da Frontex, agência de controle de fronteiras do bloco, apontam que políticas mais rígidas, especialmente na Itália sob o governo de Giorgia Meloni, foram decisivas para essa queda.
As rotas pelo Mediterrâneo Central e pelos Bálcãs lideraram a redução, com quedas de 57% e 78%, respectivamente. A Itália firmou um acordo com a Tunísia em 2023, que desestimulou as ações de coiotes e fortaleceu as guardas costeiras africanas, reduzindo significativamente as travessias. Nos Bálcãs, a introdução de políticas de visto mais rigorosas e controles fronteiriços reforçados também desempenharam um papel importante.
O avanço das políticas linha-dura na agenda europeia
As medidas restritivas ganharam força política em toda a Europa, com destaque para a proposta de Meloni de estabelecer um centro de detenção na Albânia, destinada a abrigar até 3.000 migrantes enquanto decisões sobre refúgio ou deportação são tomadas. Embora o plano tenha sido bloqueado pela Justiça italiana, ele foi elogiado por líderes como Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e gerou eco em outros países.
Na Alemanha Friedrich Merz, líder da CDU (partido de centro-direita e favorito das pesquisas nas eleições legislativas marcadas para fevereiro), defendeu iniciativas similares. Sugeriu incentivos financeiros para o retorno de refugiados sírios após a queda do regime de Bashar al-Assad. O tema segue polarizado, sendo frequentemente explorado por partidos de extrema-direita da Europa, como o próprio AfD alemão.
Apesar dos avanços, rotas alternativas seguem desafiando o controle europeu. As Ilhas Canárias, por exemplo, registraram um aumento de 18% nas apreensões, impulsionado por instabilidades no Sahel e mudanças políticas em países como Senegal. Já nas fronteiras com Belarus, o fluxo triplicou, alcançando 17 mil detenções, com grande parte dos migrantes sendo desertores da guerra na Ucrânia.
Subnotificações e desafios humanitários
Hans Leijtens, diretor da Frontex, alertou para o risco de subnotificações, especialmente em áreas menos monitoradas, como o Atlântico. A Organização Mundial para Imigrações também destacou o aumento das chances de naufrágios em regiões como a África Ocidental, onde o monitoramento é mais limitado.
Embora os números gerais mostrem uma redução, os desafios humanitários permanecem. Em 2024, o Canal da Mancha registrou um recorde de mortes, enquanto rotas alternativas expõem migrantes a riscos extremos. O cenário reforça a necessidade de políticas que equilibrem segurança, solidariedade e respeito aos direitos humanos, diante de um fenômeno tão complexo quanto a migração.