Brasileiros na Europa: quais são os principais motivadores da mudança de continente?

Por Mariana Muzardo, Imagem Corporativa 24 de novembro de 2023 5 minutos
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A Europa está cada vez mais atrativa para os brasileiros que buscam qualidade de vida

A falta de mão de obra qualificada é um problema crescente na Europa. A última edição do relatório “Employment and Social Developments in Europe”, da Comissão Europeia, aponta escassez de mão de obra em vários setores e profissões, independentemente dos níveis de competência, e destaca que a escassez deverá aumentar nos próximos anos. Diante desta situação, os países europeus estão se tornando mais receptivos aos trabalhadores estrangeiros.

Hoje, a Alemanha é o país com mais estrangeiros empregados. Segundo dados da Eurostat, 17.312 pessoas de outros continentes estão com moradia legalizada e trabalhando no país. Ainda assim, o Ministro do Trabalho aponta que a Alemanha terá um déficit de sete milhões de trabalhadores até 2035. Uma realidade que tem incentivado cada vez mais jovens brasileiros a pensar em uma carreira internacional.

 Qualidade de vida e poder de compra

Segundo o Itamaraty, a Europa conta com mais de 1 milhão de brasileiros em seu território. O que corresponde a quase um terço (32,4%) de todos os brasileiros vivendo fora do território nacional. A maior parte destas pessoas mudaram de país em busca de salários melhores, acesso à cultura e sensação de segurança.

Atualmente, o país com o maior salário-mínimo mensal de toda a Europa, segundo dados da Eurostat, é Luxemburgo com € 2.447,80 – cerca de R$ 13 mil. Alemanha (€ 1.997), Países Baixos – Holanda (€ 1964,7), Bélgica (€ 1.955) e Irlanda (€ 1.909,7), completam o ranking dos 5 países com melhores salários-mínimos – todos acima de R$ 10 mil.

Os números do salário chamam à atenção. Mas qual o poder de compra efetivo? De acordo com o índice Big Mac, usado para comparar a paridade de poder de compra entre os países, O Real está subvalorizado 17,53% em relação ao dólar, enquanto o euro está 7,47% subvalorizado. O que indica, de maneira bem genérica, que produtos básicos tem um custo mais elevado na União Europeia. Para se ter uma ideia, segundo os dados divulgados no início deste ano pela The Economist (criadora do índice), um Big Mac custa em média R$ 32 no Brasil e R$ 56,80 em Luxemburgo.

O indicador não leva em conta, contudo, questões como preço de moradia, acesso a saúde e transporte, que têm peso importante na vida das pessoas. Inclusive, no que tange a possibilitar a vivência de experiencias distintas e enriquecedoras. Neste sentido, uma das grandes vantagens percebidas pelos brasileiros que decidem “buscar a sorte” na Europa são as viagens em modelo low-cost, em que é possível pegar voos de Luxemburgo à Bélgica, por exemplo, por menos de € 1 em alguns dias e horários. Além do transporte por trens, que costumam ter custos bastante acessíveis. Uma viagem de Berlin (capital da Alemanha) para Amsterdã (capital da Holanda), por exemplo, custa em média € 40 – menos de R$ 215,00, o que usualmente não dá para comprar uma passagem de ónibus de São Paulo ao Rio de Janeiro.

“No período que estou aqui (em Portugal), tive a oportunidade de conhecer a Espanha, em um “bate e volta” de ônibus até Salamanca. A experiência foi incrível e percebi que na Europa é muito comum rotas de ônibus, trem e até carro por países próximos de forma mais acessível que no Brasil”, comenta Gabriela Almeida Rocha, intercambista na faculdade de Coimbra cursando Ciências da Educação.

Comunidades brasileiras na Europa

Com o quinto maior salário-mínimo da Europa, a comunidade de residentes brasileiros legais na Irlanda é a que mais tem crescido. Aumentou mais de cinco vezes nos últimos dois anos, indo de 13,6 mil para 70 mil pessoas de acordo com dados da Embaixada do Brasil em Dublin. Hoje, o país ocupa o 7° lugar entre os mais populares para brasileiros.

Contudo, a maior comunidade brasileira na Europa se encontra em Portugal, com 360 mil residentes em condições legais. Apesar de o país apresentar o menor salário-mínimo do continente (€ 760, o que equivale a pouco mais de R$ 4 mil), o processo de legalização mais simples e o idioma em comum têm peso muito alto na decisão e mesmo em possibilidades de colocação no mercado. Dados do Britsh Council indicam que apenas 5% dos brasileiros falam inglês fluente. Já o Instituto Cervantes aponta que há cerca de 460 mil brasileiros fluentes em espanhol, o que equivale a 0,2% da população.

Porém, se engana quem acredita que o processo de adaptação é simples. Ana Catarina Maia, pesquisadora e professora de inglês e espanhol, vive na Europa há sete anos e garante que os brasileiros enfrentam desafios sérios na busca por este sonho. “Senti que o processo de adaptação cultural foi, no geral, tranquilo. Mas, não fui bem recebida pela população local, sofri xenofobia diversas vezes. Foi um verdadeiro choque cultural perceber que os portugueses não são nem um pouco receptivos e gentis com nós brasileiros”, comenta.

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