Brasil e França impulsionam coalizão global contra desinformação climática

19 de novembro de 2025 4 minutos
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Na conferência realizada em Belém, Brasil e França protagonizam uma iniciativa inédita para enfrentar a proliferação de fake news sobre as mudanças climáticas, com foco em fortalecer a integridade da informação e proteger o jornalismo investigativo.

Por meio da Iniciativa Global para a Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima, os dois países buscam centralizar o debate sobre desinformação climática nas negociações internacionais. A coalizão conta com apoio da ONU, da UNESCO e de outros governos, propondo soluções concretas para mitigar táticas como o negacionismo e o greenwashing.

A relevância da iniciativa é reforçada pelo fato de que, pela primeira vez, o tema da integridade informacional entra oficialmente na Agenda de Ação do encontro, algo considerado inovador na diplomacia climática.

Declaração global e compromisso multilateral

Durante a conferência, foi assinada uma Declaração sobre Integridade da Informação Climática, que reúne compromissos de diferentes nações em três níveis: internacional, nacional e local.

Até agora, países como Brasil, França, Canadá, Chile, Dinamarca, Alemanha, Espanha, Suécia e Uruguai já aderiram ao documento, demonstrando força política para transformar a luta contra a desinformação em uma agenda climática estratégica.

A coalizão lançou um chamado à ação, sob a forma de um mutirão global, para apoiar projetos baseados em evidência científica:

  • Serão aceitas propostas para pesquisa sobre desinformação climática
  • Desenvolvimento de ferramentas de comunicação e campanhas para educação midiática
  • Apoio a jornalistas que investigam temas climáticos
  • Projetos que aumentem a transparência em anúncios digitais relacionados ao clima
  • Iniciativas que promovam o letramento digital e midiático em torno das mudanças climáticas

As propostas selecionadas podem entrar para a Agenda de Ação Climática da conferência, o que significa que ideias emergentes ganham visibilidade internacional.

Além disso, existe um Fundo Global para a Integridade da Informação Climática, gerido pela UNESCO, que será alimentado por doações para financiar projetos com impacto real.

Por que isso importa

Em um contexto em que a desinformação climática pode minar a confiança pública em políticas ambientais, essa iniciativa surge como uma ferramenta diplomática estratégica. Frederico Assis, enviado especial para integridade da informação, afirmou que “informações falsas ou distorcidas podem minar a credibilidade de todo o processo, desestimular o engajamento da população e alimentar narrativas que legitimam o imobilismo.”

Relatórios científicos também sustentam a urgência dessa pauta: o IPCC já alertou que a desinformação deliberada enfraquece a percepção pública de consenso científico, atrasando políticas climáticas.

A estratégia brasileira: articulação e alianças

O Brasil articula uma rede nacional de organizações para reforçar essa pauta, reunindo instituições da sociedade civil, universidades e especialistas internacionais para ações conjuntas de combate à desinformação climática.

Nina Santos, secretária-adjunta da Secretaria de Políticas Digitais, defendeu que é preciso mais do que checagem pontual: “soluções estruturais” como educação midiática são fundamentais para responder ao negacionismo climático.

Durante o evento, o governo brasileiro também lançou documentos para lidar com a desinformação no contexto da publicidade digital. Em parceria com ONGs e cientistas, foram apresentados um guia jurídico para a integridade da informação climática e uma carta-compromisso para práticas mais transparentes na publicidade digital.

Um novo paradigma

Essa iniciativa tem potencial para remodelar a geopolítica climática: ao colocar a desinformação no centro das negociações, Brasil e França sinalizam que a crise ambiental não pode ser enfrentada apenas com tecnologias e cortes de emissão, mas também com infraestrutura informacional — ou seja, construindo ecossistemas de informação robustos, baseados em evidência e resistentes a distorções.

Além disso, ao mobilizar governos, sociedade civil, acadêmicos e órgãos internacionais, a Iniciativa Global cria uma rede multissetorial que pode sustentar ações de longo prazo, mesmo após a COP30.

 

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