Birgitte Tümmler, a dinamarquesa que transformou aves brasileiras em arte

Ilustradora radicada no Brasil desenvolveu técnica com caneta esferográfica; obras serão expostas na USP até domingo

17 de maio de 2019 5 minutos
Europeanway

Artista visual e ilustradora, Birgitte Tümmler define-se como uma dinamarquesa apaixonada pelo Brasil. Radicada no país desde a infância, ela chegou a retornar à sua Dinamarca natal na juventude, mas sua ligação com o país de adoção acabou pesando – e ela fincou raízes por aqui de vez.

A ilustradora especializou-se em pintar e desenhar aves características da fauna brasileira, utilizando especialmente uma técnica com caneta esferográfica. “É um material que temos rapidamente à disposição quando a inspiração aparece”, ela diz.

A artista vai expor suas obras neste fim de semana (17 a 19/5) na 14ª edição do Encontro Brasileiro de Observação de Aves (Avistar Brasil), o maior evento do gênero no país. A programação será no campus da USP, no bairro do Butantã, em São Paulo, onde Birgitte também vai ministrar uma oficina para ensinar sua técnica.

Em entrevista exclusiva ao Scandinavian Way, Birgitte Tümmler conta sobre sua trajetória, sua ligação com as artes e com a preservação da natureza.

A vida no Brasil
Nasci em Copenhague e vim bebê para o Brasil. Na época meu pai trabalhava na F.L.Smidth e foi mandado para cá para acompanhar montagens de fornos de cimento do grupo Votorantim – estamos falando da década de 60! Meus pais, como muitos dinamarqueses que vieram para cá, se apaixonaram pelo Brasil; assim, quando surgiu o convite para ficar, eles não hesitaram em aceitar. Nessa época, vivíamos em Rio Branco do Sul, uma pequena cidade da região metropolitana de Curitiba.

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A estrada que ligava as duas cidades era de chão, tudo muito rústico, simples, natural e leve. Tínhamos um sítio, e acho que essa vida me conectou muito à natureza, além da influência do meu próprio pai Erik, que amava demais os animais. Tanto é que, por saberem disso, os locais sempre nos traziam animais silvestres, órfãos ou encontrados a esmo. Eram quatis, jaguatiricas, macacos, saguis, pacas, veados e outros. Muito singelo, mas esse contato às vezes torna o ser humano mais conectado.

Quando jovem, eu cheguei a morar alguns anos na Dinamarca. Eu amo muito minha terra, mas percebi que precisava viver muitas coisas no Brasil, que também amo. E uma das coisas que me puxava de volta pra cá era a força dessa natureza inebriante.

A opção pela caneta esferográfica
Eu sempre gostei de usar a caneta esferográfica, desde minha época de estudante, por se tratar de um material que temos rapidamente à disposição quando a inspiração aparece. Também gosto da esferográfica porque ela me permite uma gama de efeitos e da forma que utilizo, cai bem no meu gosto de técnica de precisão (acho que é instintivo, tanto pela origem dinamarquesa como formação técnica em mecânica).

Ilustrei um livro chamado Memórias dos Desbravadores de Cavernas do Paraná, em que retrato dez das principais cavernas paranaenses com esferográfica. Foi uma homenagem ao grupo de espeleologia do qual fiz parte na minha juventude. Aliás, devo especialmente às cavernas esse lado que tenho ainda mais apegado e protecionista da natureza. Eu creio que entrar nas profundezas da terra e sentir toda a vibração subterrânea nos faz humildes perante a vida e nos mostra que estamos todos num circuito de conexão. E se essas conexões falham, todo um sistema desaba – um ecossistema, afinal, do qual fazemos parte.

A paixão pelas aves brasileiras
Inspirações relacionadas à natureza sempre apareciam. Eu comecei com uma coleção de cenários da Mata Atlântica e da Serra do mar, em que retratava a flora encontrada nas trilhas e subidas de morro. Depois, retratei paisagens diversas, envolvendo biomas e fauna, da região do Pantanal sul-mato-grossense, numa aventura de mil quilômetros de bicicleta. Outros momentos no Cerrado envolvendo a cultura indígena também surgiram.

Ao mesmo tempo, eu comecei a integrar o Artists and Biologists Unite for Nature (ABUN), grupo criado pela artista americana Kitty Harvill e seu esposo Christoph Hrdina, ambos muito envolvidos com entidades ambientais. Esse grupo é composto de artistas de várias partes do mundo e que produzem, de forma voluntária, artes para projetos mundiais que estão trabalhando na proteção de espécies ameaçadas. Aqui, surgiram alguns projetos nacionais e internacionais, como o da ararinha azul, da harpia, a rolinha-do-planalto, etc. E me percebi apaixonada fazendo essas aves. Também houve um momento de inspiração no qual fiz uma coleção de beija-flores e flores de maracujá.

De lá para cá, os passarinhos estão com toda força em meus trabalhos. O engraçado é que esse era o sonho de meu pai: me ver desenhando passarinhos.

O trabalho como conservacionista
Não estou oficialmente ligada a alguma entidade, apenas ao ABUN, e por meio desse grupo nos conectamos a várias entidades. Além disso, o que faço é dar meu suporte como artista e com a sensibilização de que a arte é capaz de fazer por qualquer projeto sério ligado à natureza e aos povos originais.

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