“Estabilização macroeconômica em um ambiente inflacionário volátil”. Esta foi a temática da edição 2023 do European Central Bank Forum, evento organizado anualmente pelo ECB para debater os rumos da economia com líderes de bancos centrais e economistas de países da região.
O editor de assuntos econômicos europeus da revista inglesa The Economist, Christian Odendahl, definiu a reunião deste ano em Sintra, perto de Lisboa, como uma espécie de reunião de família. “Vejo rostos conhecidos em todos os lugares deste belo local” diz ele, referindo-se a antiga casa de verão da família real portuguesa que abrigou o encontro de 26 a 28 de junho.
Ele comenta que o clima este ano é bem mais otimista do que o da reunião do mesmo grupo em junho de 2022, poucos meses após o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Naquele momento um preocupado Banco Central Europeu (BCE) previa significativo aumento da inflação (e possíveis aumentos salariais compensatórios), além de grande crise de energia. E tinha mais dúvidas do que certezas acerca da definição dos juros naquele contexto.
Aqueles que antes pensavam que a inflação seria temporária, como o próprio Christian Odendahl, estavam revendo posições, descreve ele. O grupo incluía muitos banqueiros centrais, que na visão do editor da Economist, “foram lentos demais para aumentar as taxas de juros desta vez”.
O cenário mudou. Agora a inflação está caindo, embora gradualmente. A economia europeia ainda está fraca, mas resistiu bem às turbulências, acrescenta ele. Os picos de preços impulsionados pela energia e pela cadeia de suprimentos deram lugar a patamares mais baixos. Alguns analistas esperam que a inflação na zona do euro caia para 3% até o final do ano, dando consistência aos sinais do Banco Central Europeu (BCE) de fazer com que ela volte à meta de 2%, ainda que isso demore alguns anos.
Ainda segundo Christian Odendahl, muitos participantes do encontro em Sintra estão se concentrando nas lições aprendidas nos últimos 18 meses.
Ele vê duas correntes de pensamento nesse contexto: uma delas representada por Gita Gopinath, vice-diretor administrativo do FMI, que teme que os riscos de inflação, interrupções no fornecimento e vulnerabilidades no campo energético não sejam fatores passageiros e acabem se transformando em um fato da vida. Isso exigiria taxas de juros mais altas no futuro, ou mesmo aumentos preventivos, se a economia estiver muito aquecida e próxima do pleno emprego. Essa corrente sugere que os bancos centrais devem continuar lutando a “guerra de hoje”, sem baixar a guarda.
Outra corrente acredita que o período de 2021-2022 foi atípico demais e viu uma combinação única de fatores: choques de oferta causados pela covid-19; uma forte recuperação econômica pós-pandemia; e um choque de energia. Mas esse grupo parece não estar convicto acerca dos caminhos futuros da política monetária mais adequada para a região.