
A possível adesão antecipada de Albânia e Montenegro à União Europeia volta a colocar os Balcãs Ocidentais no centro da política de integração europeia. Em um momento de redefinição estratégica do bloco diante da guerra na Ucrânia, da crescente influência de potências externas e das fragilidades internas da UE, a discussão sobre novos alargamentos adquire contornos que vão além da diplomacia — e revelam contradições estruturais sobre o futuro do projeto europeu.
Durante visita recente à região, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, declarou que Albânia e Montenegro estão “tecnicamente” mais bem posicionados para ingressar na UE do que outros candidatos dos Balcãs Ocidentais, como Sérvia, Macedônia do Norte, Bósnia-Herzegovina e Kosovo. A fala foi interpretada como um sinal político: o bloco pode, sim, aceitar a entrada de países individualmente, em vez de priorizar uma ampliação coletiva da região — como era defendido até poucos anos atrás.
Montenegro, que abriu formalmente as negociações de adesão em 2012, é o candidato mais avançado: já encerrou três dos 35 capítulos do chamado “acervo comunitário” e demonstrou, apesar de retrocessos pontuais, maior estabilidade institucional. A Albânia, por sua vez, iniciou suas negociações em 2022, após anos de bloqueios impostos por Estados-membros (sobretudo a Bulgária), e tem se esforçado para implementar reformas no Judiciário e no combate à corrupção. Mas ambos ainda estão longe de cumprir todos os critérios exigidos pelo bloco.
A geopolítica dos Balcãs ganha novo peso
Mais do que mérito técnico, o que acelera agora a discussão é o contexto geopolítico. Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, a União Europeia vem ampliando sua atuação política e econômica em regiões tradicionalmente consideradas vulneráveis à influência de Moscou e de Pequim. Os Balcãs Ocidentais, historicamente instáveis e fragmentados, tornaram-se peça-chave na nova lógica de segurança continental.
A ampliação do bloco, que por anos foi vista como risco político e financeiro, passou a ser tratada como necessidade estratégica. A entrada acelerada da Ucrânia, Moldávia e Geórgia no status de candidatos apenas reforçou a ideia de que a UE precisa ocupar espaços antes que outros o façam. A Albânia, membro da OTAN desde 2009, e Montenegro, que também integra a aliança militar, são considerados parceiros confiáveis nesse xadrez.
Apesar das declarações otimistas, o processo de adesão enfrenta barreiras internas na própria UE. Estados-membros como França, Dinamarca e Países Baixos continuam céticos quanto a novas entradas, especialmente diante de uma União que ainda lida com as consequências do Brexit, do enfraquecimento do Estado de Direito em países como Hungria e Polônia, e da crescente pressão migratória.
Além disso, há um debate latente — e até agora não resolvido — sobre a reforma institucional da União. A entrada de novos membros implicaria mudanças profundas na tomada de decisão, distribuição de recursos e equilíbrio de poder dentro do bloco. Sem uma revisão no sistema de votação e nas regras de governança, especialistas alertam que a UE pode se tornar ainda mais inoperante diante de crises futuras.
Do ponto de vista dos países candidatos, a adesão plena representa não apenas uma chancela política, mas uma promessa de desenvolvimento econômico, estabilidade institucional e acesso aos mercados europeus. Mas há também riscos. A Albânia, por exemplo, já enfrenta uma fuga de mão de obra qualificada e uma crescente dependência de remessas vindas da diáspora. A integração ao mercado único, sem mecanismos de apoio robustos, pode agravar essas distorções, como ocorreu com países do Leste Europeu no início dos anos 2000.
Montenegro, por sua vez, precisa lidar com uma dívida pública crescente, dependência do turismo e tensões étnicas internas que, embora menos visíveis que nas vizinhas Sérvia e Bósnia, ainda moldam sua política doméstica.