Os grandes incêndios florestais que varreram a Suécia no ano passado não são a única ameaça que as empresas florestais temem para a temporada de verão de 2019. Há um perigo muito menor em tamanho – mas com potencial de gerar perdas bem maiores que as causadas pelo fogo – à espreita na mata.
O Ips typographus, ou besouro de casca de espruce europeu, que mede cerca de 4 milímetros – vários, aliás, podem caber em apenas uma unha da mão -, danificou mais árvores em 2018 do que os incêndios florestais que assolaram a Suécia. E como os insetos prosperam em climas cada vez mais quentes e secos, os danos que eles causam provavelmente crescerão.
LEIA TAMBÉM:
– Noruega e Suécia estão entre os países que mais ampliaram riqueza com aquecimento global
– Em nova pesquisa, Suécia lidera mais uma vez ranking de transição para energias limpas
– Dinamarca é um dos países mais afetados pelo aquecimento global, diz pesquisa
Na previsão mais pessimista da Agência Florestal Sueca, o besouro poderá destruir até 12,5 milhões de metros cúbicos de madeira este ano, o que geraria prejuízos de até 6 bilhões de coroas suecas (o equivalente a R$ 2,5 bilhões), montante que corresponde a 15% da produção anual. Em outra estimativa, mais conservadora, os danos devem igualar os do ano passado, ficando entre 3 e 4 milhões de metros cúbicos.
O risco de aumento dos prejuízos cresce com o avanço das mudanças climáticas. Invernos excepcionalmente amenos estão transformando os solos gelados em uma lama espessa capaz de engolir enormes veículos de corte, que pesam 25 toneladas. Os verões mais quentes estão aumentando o risco de incêndios, que no ano passado fizeram muitas empresas interromper temporariamente suas operações enquanto o país era forçado a pedir ajuda a toda a União Europeia para combater as chamas.
Embora o besouro de casca de espruce europeu não seja um problema recente, ele passou a representar uma ameaça maior porque o aquecimento global está tendo um efeito direto nas defesas naturais das árvores contra seus parasitas. Os espruces crescem com mais vigor em verões úmidos e frios e podem afogar seus hóspedes indesejados em resina, mas durante períodos de seca quente suas defesas são enfraquecidas, o que permite que os insetos se multipliquem muito mais facilmente.
Para desgosto dos proprietários de florestas, os pequenos besouros também apreciam as árvores mais caras, preferindo as que têm entre 40 e 100 anos de vida. "O valor da madeira se deteriora radicalmente", disse à Bloomberg Hans Kallsmyr, coordenador de danos da Agência Florestal Sueca.
A agência criou uma força-tarefa de crise junto com a indústria para combater a ameaça. O trabalho prevê identificação, corte e remoção de árvores danificadas assim que o inseto começar a se formar na primavera. Algumas empresas usam ainda inteligência artificial, algoritmos e fotos de satélite para rastrear ataques de besouros.
Mas, mesmo com todos os cuidados, só é possível controlar de 25% a 30% do risco de contaminação, de acordo com Torbjorn Elofson, gerente regional da Holmen Skog. O resto depende do clima. "A razão para os extensos ataques do ano passado foi que a floresta estava tão seca que ficou estressada", disse Elofson. “A floresta depende da chuva para crescer e ser resistente."
Um espruce precisa crescer por 50 anos antes de ser cortado. Agora, os gestores de florestas começam a plantar outras árvores para diversificar a produção – e reduzir o risco. Isso até pode deixar o besouro sem suas árvores favoritas, mas também pode causar grandes mudanças no habitat natural da Suécia.