
Uma parceria complexa e multifacetada, relevante tanto em oportunidades quanto em desafios, marcada pelo antagonismo protagonista de dois países – Brasil e França. É o que sugere levantamento exclusivo realizado pelo Grady College da Universidade da Geórgia (EUA) em parceria com a Imagem Corporativa na cobertura da imprensa estrangeira sobre o acordo de livre comercio entre Mercosul e União Europeia.
Foram coletados, com busca retroativa, entre janeiro e dezembro de 2024, mais de 19 mil artigos em plataformas de conteúdo noticioso de língua inglesa ao redor do mundo. De um modo geral, os resultados mostram a importância do acordo como um marco para o comércio internacional. No entanto, os dados pontuam contrastes entre o esforço diplomático para sua ratificação, principalmente por parte do governo brasileiro, e os protestos contra o acordo, especialmente de agricultores franceses.
Dentre os países do Mercosul, o Brasil é o mais citado nas matérias internacionais com cerca de 9 mil menções. Em seguida, aparece a Argentina com pouco mais de 6 mil citações. Uruguai e Paraguai têm desempenho equivalente no Share of Voice, com índices que superam 5 mil menções, cada. Bolívia aparece bem menos, com frequência inferior a 2 mil citações.
Do lado europeu, a França é, de longe, a mais citada com escore duas vezes maior do que a segunda colocada, a Alemanha (cerca de 13 mil contra 6 mil menções, respectivamente). Nenhum outro país da União Europeia alcança a marca de 5 mil menções. No entanto, Espanha, Polônia, Itália, Bélgica, Holanda e Romênia têm índices superiores a 2 mil menções.
O relatório da Universidade da Georgia classifica a grande maioria do conteúdo como neutro. Quando se observa, no entanto, os dados referentes a Brasil e França, há uma diferença importante nas taxas de sentimento negativo – 19% e 31%, respectivamente. Considerando-se apenas os títulos das matérias, a distância é ainda maior – 13% de menções negativas nas que citam o Brasil contra 39%, nas que citam a França.
O resultado reflete o posicionamento dos dois países no processo final de negociação, o que fica claro nos picos de menção nos veículos internacionais ao longo de 2024. Não surpreende, portanto, que mesmo com as divergências sobre o tratado, o encontro dos presidentes Lula e Macron em Belém em março do ano passado, seja um dos fatos de maior repercussão na mídia estrangeira – perde, em volume, apenas para o anúncio da parceria com a presença de Ursula von der Leyen na cúpula do Mercosul no Uruguai em dezembro e para a cobertura dos protestos de agricultores europeus em fevereiro e novembro de 2024.
Outros temas relativos ao acordo e que também ganharam destaque no período foram os padrões ambientais impostos pela União Europeia e riscos de concorrência desleal por importações de baixo custo que não seguem essas mesmas diretrizes. Ambos os tópicos são mencionados com ênfase nas matérias sobre as manifestações de agricultores, principalmente os da França, Alemanha, Espanha, Itália e Polonia. A guerra entre Rússia e Ucrânia, por outro lado, figura como uma das principais causas para o avanço das tratativas.
A pesquisa do Grady College ganha uma nova camada ao se observar as fontes mais frequentes do noticiário sobre o acordo. O idioma tem correlação com o resultado, mas percebe-se, por exemplo, que o volume de matérias da imprensa norte americana é quatro vezes maior do que o observado no Reino Unido.
Com a guerra comercial que se avizinha, deflagrada pelo novo mandato de Donald Trump, será interessante acompanhar se Brasil e França manterão o antagonismo sobre o assunto ou se pretendem calibrar o discurso em uníssono para evitar ruídos que já travaram as negociações recentemente.