
A coalizão conservadora-social-democrata liderada pelo chanceler federal Friedrich Merz registra índices históricos de desaprovação sete meses após assumir o poder na Alemanha. Enquanto o governo luta para reverter a estagnação econômica, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha se consolida como força política dominante no país.
Apenas 21% dos alemães aprovam o desempenho da administração formada pela CDU/CSU e pelo Partido Social-Democrata, segundo pesquisa do instituto Insa divulgada no domingo. A taxa de insatisfação chegou a 70%, um salto de 10 pontos percentuais desde agosto, quando o governo completava seus primeiros cem dias.
A deterioração na aprovação de Merz pessoalmente é igualmente acentuada. Apenas 23% dos alemães avaliam positivamente o trabalho do líder conservador, enquanto 68% expressam visão negativa. Os números se aproximam perigosamente dos índices do antecessor Olaf Scholz, que registrou 72% de reprovação nos dias que antecederam o colapso de sua coalizão em novembro de 2024.
A insatisfação popular reflete o desempenho econômico decepcionante da maior economia europeia. Após dois anos consecutivos de recessão relacionados principalmente à invasão russa da Ucrânia e ao consequente aumento nos preços de energia, a Alemanha esperava se recuperar em 2025.
As previsões, contudo, foram sistematicamente reduzidas ao longo do ano. Segundo análises do Bundesbank divulgadas em dezembro, a economia alemã deve registrar crescimento de apenas 0,2% em 2025, abaixo das expectativas iniciais. A Comissão Europeia projeta que o país permanecerá em “estagnação ampla” este ano, com recuperação modesta apenas em 2026 e 2027.
O segundo trimestre de 2025 trouxe nova contração econômica. As insolvências empresariais atingiram seu maior nível em uma década no primeiro semestre, com cerca de 11.900 falências, afetando especialmente pequenas e médias empresas industriais. A taxa de desemprego subiu para seu maior patamar em cinco anos, enquanto as vagas de emprego caíram 10% em comparação anual.
Tensões internas ameaçam coalizão
Além dos desafios econômicos, a coalizão de Merz exibe sinais crescentes de disputas internas. Temas como política migratória, reforma da Previdência, gastos públicos e serviço militar geraram atritos entre os parceiros conservadores e social-democratas. As votações no Parlamento são interpretadas mais como testes sobre o estado da aliança do que demonstrações de unidade.
A mudança de postura de Merz em relação à política fiscal provocou particular controvérsia. Durante a campanha eleitoral de fevereiro, o líder conservador se apresentou como defensor da austeridade. Dias após a vitória, porém, executou uma reviravolta ao concordar com o relaxamento das restrições constitucionais sobre endividamento.
A manobra permitiu a criação de um fundo de 500 bilhões de euros para investimentos em infraestrutura e defesa, além de excluir gastos militares acima de 1% do PIB das limitações fiscais. Embora o pacote seja considerado necessário para a modernização do país, a aparente traição aos princípios conservadores custou apoio político a Merz.
Ausência de lua de mel
A rapidez com que a popularidade do governo Merz despencou surpreende observadores políticos. Governos recém-eleitos normalmente desfrutam de um período inicial de boa vontade pública.
O governo enfrenta agora o desafio de implementar reformas estruturais profundas enquanto lida com restrições políticas significativas. A coalizão não possui maioria no Bundesrat, a câmara alta do Parlamento composta por executivos regionais. Isso dificulta a aprovação de legislação importante, incluindo questões sobre migração.
As tarifas comerciais impostas pela administração Trump nos Estados Unidos, principal parceiro comercial da Alemanha, adicionaram incerteza ao panorama econômico já fragilizado. O governo alemão cortou sua previsão de crescimento para 2025 a quase zero em abril, citando o impacto das políticas comerciais americanas.





