Alemanha mantém ajuda humanitária em meio a cortes orçamentários controversos

10 de novembro de 2025 5 minutos
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A Alemanha se posiciona como o segundo maior doador mundial de ajuda humanitária, com um orçamento recente de 2,25 bilhões de euros, mas enfrenta críticas crescentes sobre a sustentabilidade desse compromisso diante de reduções orçamentárias planejadas que ameaçam sua posição de liderança no setor.

Até o meio do ano, o governo federal alemão já havia disponibilizado 889,3 milhões de dólares para projetos humanitários, além de suas contribuições aos programas conjuntos de ajuda humanitária da União Europeia. No entanto, essa cifra representa uma trajetória descendente que deve se intensificar, gerando tensões entre o compromisso declarado do país com a assistência internacional e as pressões fiscais domésticas.

A estratégia humanitária alemã concentra-se atualmente em três regiões críticas. No Oriente Médio, Berlim destinou cerca de 335 milhões de euros desde outubro de 2023 para assistir populações nos territórios palestinos ocupados, particularmente em Gaza. O chanceler Friedrich Merz declarou recentemente que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza não é mais aceitável”, pressionando por um cessar-fogo e assistência humanitária abrangente.

A operação alemã em Gaza inclui não apenas fornecimento de alimentos, cuidados médicos e moradia, mas também desminagem humanitária. A Alemanha chegou a estabelecer uma ponte aérea em cooperação com a Jordânia, utilizando aeronaves A400M para lançar suprimentos sobre a região sitiada, numa operação que movimentou centenas de toneladas de mantimentos.

Na Europa, o apoio à Ucrânia permanece prioritário. “Reconstruir a Ucrânia não é apenas uma questão futura. Não pode esperar até que as armas silenciem”, enfatizou Merz após a Conferência de Recuperação da Ucrânia realizada em Roma. O país recebe tanto ajuda emergencial quanto apoio para reconstrução de infraestrutura.

Cerca de um terço dos fundos disponibilizados destina-se a regiões de crise na África frequentemente esquecidas pela mídia internacional: Sudão, República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Etiópia, Somália e Chade. Essa distribuição reflete o esforço alemão de não concentrar recursos apenas em conflitos de alta visibilidade.

Cooperação multilateral e áreas de atuação

O governo federal trabalha em estreita colaboração com organizações das Nações Unidas, incluindo o Programa Mundial de Alimentos, Unicef e o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), além do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e numerosas organizações não governamentais.

As principais áreas de atuação incluem segurança alimentar, cuidados de saúde, remoção de minas e artefatos explosivos, abastecimento de água e saneamento, moradia, abrigo e preparação para desastres. Muitos projetos abordam múltiplas áreas simultaneamente.

Um foco especial recai sobre a proteção contra violência sexual e de gênero. A Alemanha destinou 7 milhões de euros como financiamento central para o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) nos últimos anos, recursos direcionados para projetos dedicados à promoção da saúde sexual e reprodutiva e ao reforço da proteção contra violência de gênero.

Para garantir respostas a emergências agudas, a Alemanha também utiliza fundos conjuntos, que são instrumentos de financiamento flexíveis por múltiplos países doadores. Esses mecanismos permitem que organizações de ajuda respondam rapidamente a emergências e apoiem pessoas em crises que atraem menos atenção.

A controvérsia dos cortes orçamentários

Apesar do discurso oficial de comprometimento, a Alemanha enfrenta críticas severas de organizações de ajuda e especialistas devido a cortes orçamentários planejados. O orçamento de ajuda humanitária deve cair 53%, de 2,23 bilhões de euros em 2024 para 1,04 bilhão de euros em 2025, segundo análises do Centro para Ação Humanitária e da Welthungerhilfe.

O governo justifica as reduções como “dolorosas mas necessárias” para liberar fundos para outras prioridades, particularmente o aumento dos gastos com defesa para cumprir a meta de 5% do PIB da OTAN. Segundo análises da OCDE, a Alemanha registrou uma queda de mais de 10% em sua Assistência Oficial ao Desenvolvimento (ODA) em 2024 comparado a 2023, levando o país a 0,67% do Rendimento Nacional Bruto – abaixo do compromisso internacional de 0,7%.

Especialistas alertam que, se grandes doadores como Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos cortarem ODA por dois anos consecutivos, será a primeira convergência desse tipo em 30 anos, comprometendo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a resposta a emergências em todo o mundo.

Estratégia sob pressão

Em setembro de 2024, o Ministério das Relações Exteriores publicou a “Estratégia do Ministério das Relações Exteriores Federal para Assistência Humanitária no Exterior”, visando perseguir seus compromissos de forma eficaz e eficiente mesmo sob condições desafiadoras. O documento reconhece que as tarefas estão crescendo enquanto os recursos diminuem.

Além do apoio financeiro, o governo também atua politicamente para promover acesso seguro às zonas de crise para trabalhadores humanitários, garantir que o direito humanitário internacional seja observado e providenciar proteção e suporte para indivíduos particularmente vulneráveis.

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