A aviação comercial em todo o mundo passou por maus momentos durante a pandemia da Covid-19. Uma inédita retração nas viagens de turismo e negócios deixou milhares de aviões no solo, diminuiu o faturamento e abalou as finanças da maior parte das empresas aéreas.
O fim da pandemia trouxe um previsível boom para o setor. As empresas europeias estão dando a volta por cima, num movimento que o verão europeu potencializou. E como a velha e boa lei da oferta e da procura continua mais viva do que nunca, a volta maciça dos passageiros levou a um reajuste significativo nos preços das passagens.
A irlandesa Ryanair, maior empresa low-cost da Europa e dona de uma frota de 430 jatos, acaba de anunciar resultados recordes para o primeiro semestre de seu ano fiscal (abril-setembro): um lucro de 2,18 bilhões de euros graças a um crescimento de 11% no número de passageiros e, obviamente, um aumento das tarifas.
Mas a Ryanair não é a única a jogar para cima os valores das viagens e, por isso mesmo, a União Europeia está de olho no setor. Adina Vălean, comissária de transportes da UE, disse ao Financial Times que ela e sua equipe estão “analisando detalhes do que exatamente está acontecendo no mercado, e por quê”, embora as autoridades do bloco não tenham o poder de regular as tarifas aéreas. Estas subiram entre 20% e 30% em todo o continente durante o verão deste ano, comparativamente ao último verão antes da pandemia, em 2019.
As companhias aéreas são livres de definir as suas próprias tarifas ao abrigo da legislação da UE, e nesse mercado onde impera a livre competição historicamente os preços tendem a baixar e novas rotas serem abertas.
No entanto, um aumento na procura de voos este ano, em paralelo a uma escassez de aviões, fez subir os preços dos bilhetes. Muitas companhias aéreas retiraram de circulação aviões durante a pandemia do coronavírus e não receberam novas unidades devido a problemas da cadeia de abastecimento global. Além disso, pressões inflacionárias sobre o combustível e a mão-de-obra também aumentaram os custos das operadoras.
Os grupos Lufthansa (728 aviões), Air France-KLM (574 aviões) e British Airways (520) também registaram lucros recordes durante o verão, compensando parte das perdas registradas durante a pandemia.
A IATA, entidade que representa em nível global as empresas aéreas, prevê que 2023 vai marcar a volta da rentabilidade para o setor após perdas históricas que foram de US$ 140 bilhões em 2020, pico da pandemia. Os lucros operacionais deste ano devem chegar a US$ 22,4 bilhões.