
“O livre comércio foi declarado morto nas últimas semanas, então é um momento excelente para debater o futuro das relações comerciais.” A afirmação inicial de Joris Bulteel, fundador da Whyte Corporate Affairs, no encerramento do European Day resume a importância do acordo de livre comercio entre Mercosul e União Europeia – principal foco dos debates na terceira edição do evento, que este ano foi sediado em Bruxelas (Bélgica).
O executivo destaca que, frente ao atual momento geopolítico, é fundamental entender que a União Europeia (UE) está aberta para aqueles dispostos a fazer negócios. Mais do que isso, Bulteel defende que os rígidos padrões da UE, frequentemente tomados por uma barreira complexa em negociações comerciais, servem como uma resposta a volatilidade pela qual os mercados estão passando. “A lentidão do mercado europeu é sinônimo de estabilidade, e é isso o que precisamos atualmente”, afirma. “Quando algo é escasso, seu valor sobe. Olhando o cenário político global, este é claramente o caso de acordos de comércio”, corrobora a especialista em comunicação Lucila Ribeiro.
Apesar dos entraves e longas negociações, debates e mesmo criticismo, os participantes do European Day são unanimes em apontar que o acordo vai acontecer. Ciro Dias Reis, presidente da Imagem Corporativa e organizador do evento, destaca que apesar de a jornada até o acordo entrar em vigor parecer longa, é preciso se preparar e entender que as negociações em questão são definitivas e vão afetar a todos. Inclusive quem não está olhando para a possibilidade de exportações para a Europa. “Temos tempo, mas não muito tempo. São só alguns meses até a conclusão do acordo e diferentemente do que estamos acostumados, as decisões não serão flexíveis. O que for firmado vale para sempre”, alerta. “Companhias e executivos precisam estar preparados, pois também teremos o mercado interno aberto para concorrentes europeus como nunca antes.”
É tempo de agir, não de reagir
Ribeiro pondera que entre os desafios e vantagens inerentes ao acordo, a aproximação entre os dois mercados e culturas já traz lições valiosas, especialmente em como agregar valor aos produtos e fortalecer reputações. “Há um vasto espaço a ser ocupado na Europa por produtos brasileiros”, vaticina. A especialista defende ações como a criação de certificados Denominação de Origem Controlada (DOC) para os queijos mineiros, carne do sul do Brasil, café e até cacau, a exemplo do que foi feito para a valorização dos vinhos e queijos italianos. “Temos muito o que aprender com a União Europeia”, reforça.
Um dos grandes gargalos neste sentido é a falta de narrativas de empresas e do governo brasileiro. “Faltam ações concretas para mostrar aos membros da União Europeia as vantagens e diferenciais do mercado e dos produtos brasileiros. Há muitas qualidades que as pessoas [na Europa] desconhecem”, avalia Dias.
Ainda que os dois blocos compartilhem de muitos valores em comum, especialmente a preocupação com o welfare e a sustentabilidade, o maior inimigo do acordo neste momento é a desinformação. “Nossos valores compartilhados serão drivers de negócios, mas conhecer um ao outro e nos entendermos será a chave do sucesso”, prevê Bulteel. “Eu mesmo aprendi, hoje, que o brasil é um campeão da energia renovável. Na Europa, precisamos abraçar essa diversidade e olhar o que nossos parceiros estão fazendo. Claro, também fica o convite para os nossos parceiros do Brasil e da América do Sul conhecerem melhor a União Europeia e a Europa, que não são a mesma coisa. Há 27 estados bastante distintos”, conclui.