À medida que o cenário geopolítico se torna cada vez mais volátil, a Europa está revivendo uma mentalidade de Guerra Fria, ajustada aos desafios do século XXI. As ameaças nucleares de Vladimir Putin e o apoio estratégico da Coreia do Norte à Rússia intensificaram o senso de urgência em todo o continente. Nações europeias estão agora em uma corrida contra o tempo para fortalecer suas defesas militares e preparar suas populações para o que muitos temem ser uma possível escalada no conflito.
De acordo com o New York Post, a Alemanha já traçou um plano para mobilizar até 800 mil soldados da OTAN em caso de ataque russo. O documento estratégico, apelidado de “Deutschland” e composto por mil páginas, vai além da logística militar e toca aspectos cruciais de sobrevivência civil. Entre as diretrizes, destacam-se a instalação de geradores a diesel e o incentivo ao uso de fontes alternativas de energia, como turbinas eólicas, para garantir a autossuficiência em períodos de crise. Além disso, o país prevê o transporte de 200 mil veículos militares em seu território, reforçando sua posição como o principal eixo logístico da OTAN na Europa.
Enquanto isso, os países nórdicos — Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca — têm seguido um caminho complementar. Com um histórico de tensões com Moscou, essas nações intensificaram suas campanhas de conscientização pública, investindo na resiliência civil.
Entre os exemplos mais emblemáticos desse movimento, destaca-se a Suécia, que recentemente revisou e distribuiu uma nova versão do guia “Se a Crise ou a Guerra Chegarem”. O folheto, entregue a 5,2 milhões de lares, é mais do que um documento informativo; é uma declaração do governo sueco sobre o papel essencial da preparação civil em tempos de instabilidade.
Revisado pela primeira vez desde 2018, o guia oferece orientações claras sobre como os cidadãos devem agir em situações extremas, sejam elas de guerra, ciberataques ou desastres naturais. As instruções vão desde a estocagem de alimentos não perecíveis, água potável e medicamentos até estratégias para lidar com longos períodos sem eletricidade. Há também um apelo para que os suecos mantenham a calma e a solidariedade em tempos de crise, um reflexo da forte tradição comunitária do país.
Na Finlândia, que compartilha uma fronteira de 1.300 km com a Rússia, a resposta foi ainda mais robusta. Um plano para construir uma cerca de 200 km em sua fronteira oriental simboliza a determinação do país em conter possíveis incursões russas. Essa medida é complementada por plataformas digitais que educam os cidadãos sobre autodefesa, algo profundamente enraizado na memória histórica finlandesa desde o conflito com a União Soviética na Segunda Guerra Mundial.
Por outro lado, Noruega e Dinamarca têm investido em guias práticos que abordam desde o gerenciamento de apagões até protocolos em caso de acidentes nucleares. A mensagem é clara: a preparação civil é tão importante quanto a capacidade militar.
O epicentro da crise permanece na Ucrânia, que recentemente ampliou a ofensiva contra território russo com mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos. Esse movimento, embora estratégico, elevou as tensões com Moscou, que classificou o ataque como uma “provocação inadmissível”.
A perspectiva de uma mudança política nos Estados Unidos, com Donald Trump liderando as pesquisas presidenciais, adiciona um elemento de incerteza ao conflito. Embora Trump tenha prometido encerrar a guerra rapidamente, sua abordagem, potencialmente inclinada a negociações com Moscou, levanta preocupações em Kiev sobre o futuro do apoio americano. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky segue otimista, mas alerta que a falta de apoio contínuo do Congresso dos EUA poderia comprometer a resistência ucraniana.
A questão agora não é apenas militar, mas também estratégica e psicológica. A Europa está reavaliando sua capacidade de resposta, reconhecendo que qualquer hesitação pode ter consequências devastadoras. A iniciativa da Alemanha de combinar planejamento militar com resiliência civil e o foco nórdico em defesa comunitária representam abordagens complementares a um desafio complexo.
Em um continente que busca preservar sua unidade e segurança, a principal lição é clara: a preparação não é uma opção, mas uma necessidade. A nova era de tensão com a Rússia está moldando a Europa como um bloco mais resiliente, mas também mais consciente das vulnerabilidades que ameaçam sua estabilidade. O futuro dependerá da capacidade europeia de alinhar defesa e diplomacia em um equilíbrio delicado, mas crucial.