A nova fronteira energética da Europa pode estar no espaço

25 de agosto de 2025 3 minutos
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A transição energética europeia acaba de ganhar um novo capítulo. Um estudo conduzido pelo King’s College London, revelado pelo The Guardian, aponta que painéis solares em órbita poderiam fornecer até 80% da energia renovável necessária ao continente em 2050. A proposta recoloca na mesa um conceito antigo, a chamada energia solar espacial (Space-Based Solar Power ou SBSP), que por décadas foi considerada inviável por razões técnicas e financeiras.

Uma promessa de escala continental

A modelagem computacional, que abrangeu 33 países, simulou demanda, geração e armazenamento de eletricidade em diferentes cenários. Os resultados impressionam: o uso de painéis solares no espaço poderia reduzir em até 15% o custo total do sistema elétrico europeu, economizando dezenas de bilhões de euros por ano. A dependência de baterias, gargalo central das atuais estratégias de descarbonização, cairia em mais de 70%.

Além da redução de custos, o sistema poderia diminuir o uso de baterias em mais de dois terços. No entanto, a viabilidade econômica só seria alcançada até 2050, já que os custos de construção, lançamento e manutenção permanecem elevados e dependem de avanços tecnológicos significativos para se tornarem competitivos.

O otimismo dos números esbarra em barreiras conhecidas. Lançar e operar satélites com estruturas de painéis gigantescos continua sendo caro e arriscado. Além da equação financeira, surgem dilemas regulatórios e de segurança: como garantir a transmissão segura de energia por micro-ondas? Como lidar com o risco de colisões e com o aumento do lixo espacial? São pontos críticos que ainda não têm respostas consolidadas.

Se o projeto ainda soa distante, a Europa conta com um diferencial: sua experiência em cooperação multinacional. O continente já opera redes elétricas interconectadas além das fronteiras nacionais e acumula décadas de colaboração em grandes empreendimentos espaciais por meio da Agência Espacial Europeia. Esse histórico coloca a região em posição de liderar a construção de uma infraestrutura centralizada de energia solar espacial, com benefícios compartilhados entre os Estados membros.

No pano de fundo, a corrida por novas matrizes energéticas se cruza com a disputa tecnológica e geopolítica. O Japão já incluiu a energia solar espacial em sua estratégia de neutralidade de carbono. A China investe em experimentos similares. Se a Europa decidir apostar, não se trata apenas de inovação ambiental: seria também um movimento de reposicionamento geopolítico, garantindo autonomia em um setor crítico e reduzindo vulnerabilidades externas.

O estudo não é uma previsão, mas uma provocação. Mostra que o futuro energético europeu pode depender tanto de inovação radical quanto de pragmatismo regulatório e coordenação política. Colocar painéis solares em órbita pode parecer ficção científica, mas os números sugerem que ignorar essa possibilidade seria tão arriscado quanto abraçá-la sem cautela.

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