Ações práticas que de fato transformam empresas, comunidades e o planeta. Assuntos que marcaram o segundo e último dia do Scandinavian Day, evento que neste ano teve como tema “A visão da Escandinávia sobre um mundo em tempos de mudanças”. Exemplos para os grandes desafios de nosso tempo não faltaram.
O primeiro painel foi “ESG na Prática”, que debateu como os conceitos ambientais, sociais e de gestão já estão na vida das pessoas. Patrícia Acioli, diretora de Relações Corporativas da Scania, contou seu exemplo de transformação cultural. Para ela, a pandemia do novo coronavírus expôs desigualdades sociais e ambientais que tornaram o ESG ainda mais urgente. “ESG não é mais uma opção, é uma questão de sobrevivência”, resumiu.
Carolina Mariotto, da Associate Consultant da Nordic Sustainability, afirmou que nos países nórdicos o ESG já é algo do dia a dia da sociedade, inclusive dos consumidores. Em sua visão, o tema deixou de ser importante e passou a ser crucial. “A transformação cultural do ESG não ocorrerá se uma empresa tiver o tema em um departamento onde trabalham dez pessoas. É preciso que o tema esteja em toda a empresa, da diretoria à produção”, afirmou.
Jenni Pajunen, vereadora em Helsinque, contou algumas experiências da cidade que busca obter o título de mais sustentável do planeta, sendo “carbon zero” em 2035. Há medidas muito amplas, que vão, por exemplo, desde compostagem em escala ainda impensável em países como a criação de uma hora por semana para que as pessoas pensem formas de melhorar o desenvolvimento urbano.
Ela, que já trabalhou em locais como Angola e Rio de Janeiro, contudo, não minimiza os desafios, lembrando que até mesmo na Finlândia, um país relativamente pequeno e mais homogêneo, a transformação ESG é difícil, os desafios são ainda maiores em outros locais. “Estava lembrando agora do lançamento do livro de memórias do ex-presidente Barack Obama e me lembrei de sua frase ‘Yes, we can’. De fato o desafio é muito grande, mas nós podemos fazer”.
Tecnologia
O segundo painel do dia foi mais focado em tecnologia e como estas transformações têm, de fato, mudando o mundo. Com o tema “Sustentabilidade e Inovação na Criação de Novos Negócios”, Rodrigo Moraes, Diretor Digital da Yara — a empresa norueguesa que é líder global em fertilizantes —, contou a transformação da empresa, que agora está focando em “digital farm”. Ele contou que os fertilizantes são a descoberta que mais reduziu a fome no mundo e que seu segmento terá ainda mais importância em um mundo que busca a sustentabilidade ambiental. “Não há outra solução, é preciso produzir mais nas mesmas áreas”, resume, lembrando que o fertilizante é o nutriente das plantas — que inclusive é permitido na agricultura orgânica—, diferentemente dos defensivos, que são soluções químicas para aperfeiçoar a produtividade do campo.
Bengt Janér, Diretor do Gripen Brasil na Saab, começou a detalhar os avanços únicos de desenvolvimento tecnológico do caça que o Brasil passa a usar, desenvolvido na Suécia. O projeto que envolve 36 aeronaves em um primeiro momento, mas que pode evoluir inclusive para transformar o país como uma plataforma de exportação do Gripen. Ele afirma que este acordo “é um casamento de 30 anos” entre os dois países e que ao menos 350 engenheiros e técnicos farão cursos e treinamentos na Suécia. “Esse projeto é a maior transferência de tecnologia da história, tanto da FAB como da Saab”.
Brasileiros na Escandinávia
Concluindo o evento, o painel “Lições aprendidas: Brasileiros na Escandinávia”, onde dois brasileiros que já viveram em países nórdicos contaram diferenças que vão desde o dia a dia a questões empresariais. Leandro Mello, Gerente de Dealer Development da Volvo CE, conta a experiência de quem já atuou em duas multinacionais do país — anteriormente trabalhou na Electrolux. Ele contou desde a qualidade de vida, onde o convívio com a natureza é muito mais intenso que no Brasil. “Um dos maiores aprendizados na experiência sueca foi na questão de liderança. No Brasil temos a gente tem a tradição, não de dar ordem, mas de dar objetivos para a equipe. Lá é muito diferente, você tem que envolver a equipe, engajar, inclusive na elaboração dos objetivos. Eu aprendi uma frase na Suécia: chefe não é chefe, chefe é um participante de um grupo com a função de liderança e facilitação”. Para isso, ele afirma, o mais importante é ter uma relação de confiança no mundo corporativo.
Carlos Monteiro, Fundador da Evolve, contou a experiência de empreender na Dinamarca. Morando na terceira maior cidade do país, Odense, criou a uma empresa de relações públicas dedicada a viabilizar parcerias estratégicas. Ele acredita que a cultura do país é muito diferente, desde as escolas das crianças, onde aprendem a debater com responsabilidade, há uma confiança muito grande entre as pessoas e a igualdade é um valor já presente na vida do país. Até a cultura corporativa é diferente: é algo mal visto trabalhar além do seu horário, algo que muitas vezes é sinal de dedicação na cultura latina. “No Brasil vejo que não somos assertivos. Aqui, no mundo corporativo, é preciso estar preparado, ter um posicionamento bastante direto e preparado para alguém que vai questionar e nós, como brasileiros, muitas vezes não estamos preparados a isso”, conta, explicando as diferenças culturais. Outra diferença, por exemplo, é que não pega bem você se “vender” como o melhor em algo: “Quem tem que falar que você é o melhor é o mercado, você tem que ser muito low profile”